Esses dias tenho recebido um monte de emails contrários ao Ato Médico e ocorreu-me comentar aqui a respeito. A medicina, autoproclamada uma das primeiras ciências tal qual concebemos o termo, talvez seja o campo de conhecimentos onde mais a idéia clássica de compartimentação do conhecimento aplica-se. O cientista positivo, afim de estudar um fenômeno, parte de duas premissas: 1-elabora um recorte do "todo" que contenha o que pretende-se avaliar, em termos de causa e consequência; e 2-compara-o a uma situação ideal, que obviamente não encontram amparo na realidade, existindo apenas dentro da sua cabeça. O físico ilusionista que compara a Terra a uma esfera perfeita está muito mais longe da realidade sobre o planeta que o poeta que descreve a superfície terrestre em termos de montanhas e oceanos, porque a Terra é mais um amontoado de montanhas e vales que uma esfera perfeita.
Tudo bem, até este ponto está fácil. Vamos complicar um pouco o raciocínio.
Quando o químico deseja saber se a reação de potássio com hidrogênio dá algum resultado, ele não toma os elementos ao acaso. Procura uma boa fonte de potássio e outra de hidrogênio e destes retira-lhes o que pretende utilizar, isto é, faz um recorte. A natureza não oferece "hidrogênio", "enxofre", "cobre" etc como pretende a tabela periódica, a não ser -acredita-se- em estrelas longínquas... aqui, onde existimos e nossos símbolos estão estabelecidos, a natureza oferece pedras, gases, líquidos etc, cada qual possuindo uma história diferente. A simples idéia de que água é formada por oxigênio e hidrogênio já é um recorte, ou uma compartimentação do conhecimento! Porque "água é água" e não duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio, ou alguém pede na padaria : 'veja-me por favor um becker com duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio com 300ml solução a 15 graus celsius de temperatura e 1 atmosfera de pressão'.
Ainda está simples, mas é o suficiente para o que pretendo expor aqui.
O cientista positivo representa a natureza tal qual a concebe. E novamente, movidos por forças essencialmente políticas, impõem a sua versão da realidade sobre as demais. Na remota antiguidade existiam sobre a Terra os Reis Divinos, que eram verdadeiramente Reis Divinos. Eles não se impunham, porque tinham em mãos a Verdade. Não emitiam opiniões, exibiam a Verdade sobre as coisas e portanto seus pareceres eram Soberanos. Com o declínio de tão Excelsa Sinarquia por volta da decadência da antiga Atlântida (coisa de um milhão de anos atrás), essa tradição manteve-se, porém ao invés de divinos, temos medíocres infelizes que se acham algo a mais do que realmente são, sendo verdadeiramente muito menos do que todos os demais pensam a seu respeito, inclusive os mais pessimistas.

Sobre este interim, publicarei em seguida um texto muito bonito, que achei num livro de Astrologia e que explica exatamente por que aconteceu tal coisa a Wernher Von Braum.
Voltemos à ciência médica, pródiga no tratamento de cadáveres -ou corpos em estado de transe anestésico, que ficam parecidos com cadáveres. Sendo tal arte estandarte do método científico, nada mais correto que subdividir-se em verdadeiras facções, pretensamente unidas numa mesma causa. Temos, assim, a neurologia, cardiologia, dermatologia e assim por diante. Mas como é o humano? O humano é um só.
O corpo humano não oferece nenhuma emenda sequer! Não existe um parafuso, uma colagem, não possui nada disso, o ser humano é um só! O engenheiro constrói seus navios parafusando placas e vigas umas nas outras, logo, pode-se desparafusá-las também. E o humano? Não. O ser humano forma-se de um todo (o zigoto), que vai diferenciando-se até formar todo o corpo, isto é, o humano é formado por apenas uma realidade, o que está patente em seu DNA, essencialmente o mesmo em todas as células. Na sua forma primitiva, o humano busca pares e grupos, sendo desviante aquele que sente-se melhor sozinho. E somente isto já é o suficiente para a fundação de uma nova medicina, que ouso dizer, bem mais poderosa que a atual.
Com o passar do tempo, e a idéia esquizofreniforme que o humano é consituído por partes diferentes que se comunicam -o que contraria a teoria do DNA, que diz que essencialmente todas as células são idênticas-, novas áreas de conhecimento foram emergindo, seguindo a filosofia proposta, de fragmentação e idealização do todo. Cada qual buscou, a seu turno, os subsídios teóricos e filosóficos mais convenientes, sendo sistematicamente combatidas pelos demais. Assim surgiram a psicanálise, a enfermagem, a terapia ocupacional, fisioterapia etc.
Novas metodologias foram criadas, dentro deste panorama inclusivo que a ciência médica, quase exclusivamente devido à vaidade de seus mantenedores, renegou a segundo plano. Mais tarde, a adoção orbital de outras áreas de conhecimento como a psicologia, pedagogia, sociologia, antropologia etc formaram o conjunto de conhecimentos e práticas que são empregadas na área da saúde. E as especialidades médicas, seguindo bem o seu fundamento, seguiram cada uma um caminho diferente, tornando-se verdadeiras "medicinas dentro da medicina".
E em dado ponto... pareceu necessária a delimitação clara do que é medicina do que não é. Ironicamente é a mãe que não consegue dizer quem são seus filhos; ou pior, quem ela é. Em psicanálise temos um clássico exemplo da psicanálise à la Freud - neurologista; a psicanálise à la Lacan - psiquiatra; ou mesmo à la Jung/Zurique - psiquiatra/antropólogo. O Ato Médico, desta forma, em meu entender, não representa apenas a imposição de poder, forçando os demais profissionais da saúde a meros coadjuvantes -o que está bastante óbvio-: é uma luta contra a fragmentação.
Não temo em dizer que tal batalha está perdida e que é questão de tempo a nau-capitânia da ciência positiva virar um monte de pedaços de madeira flutuando no oceano, cada qual com a sua bandeirinha. Ao conceber a natureza fragmentada e idealizada, o cientista positivo chegou rapidamente a resultados bons, mas como existe dentro de um recorte, colocou um fim a priori em seu agir. Agora chegamos ao limite e segundo as regras deste jogo, é o fim da linha. Porém, questões continuam surgindo e para sua resposta (por exemplo, a depressão), é obrigatória a avaliação multi-axial.
Um dos livros que eu mais gostei de ler foi "O Príncipe" - Nicolau Maquiavel, 1512. E lá encontra-se, bem claro o seguinte: "se quiser unir todos os povos inimigos num mesmo exército, basta criar um inimigo comum a todos". O príncipe vitorioso deve ser habilidoso em manter inimigos e aliados; todo posicionamento radical é certeza de ruína e parece ser isto que o Ato Médico está propondo, visto a união nunca antes observada entre profissionais de áreas tão diferentes, como a nutrição e a psicologia, por exemplo. Provavelmente com o passar do tempo surgirão congressos de fisioterapia e nutrição; ou psicologia e educação física etc. Mais tarde, tais áreas desaparecerão para integrarem-se em coisas mais elaboradas, a exemplo das Neurociências, que congregam desde neurologistas, psicólogos, biólogos até mesmo engenheiros, fislósofos etc. E há projetos, concretos, de surgimento de cursos superiores de Neurociências.
Afinal, nem todos os males vêm para mal.
1 comment:
Tudo que você escreve fica incrível... Surpreendente. Me fascino cada dia mais, a cada texto.
Sucesso sempre. Patrícia (LaNeC)
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