Translate

Friday, December 22, 2023

Ao menos o ano terminou bem (eu acho)


 Ao menos o ano terminou bem. Na minha opinião.

Uma das coisas mais fascinantes é observar o pensamento coletivo e sua relativa autonomia em relação ao pensamento individual. Eu tenho prestado bastante atenção a isso desde que era criança e continua me fascinando.

Tempos atrás, lá nos anos 1990 +/- havia uma verdadeira efervescência de teorias de conspiração, que coincidiram à ampliação e democratização do acesso à informação e propaganda no mundo. Fitas VHS e depois DVDs circulavam livremente antes da internet, que aprofundou essa comunicação entre seres humanos que não se conhecem, mas se consideram semelhantes.

A editoração e impressão de livros e revistas também foi bastante privilegiada na época, fazendo surgir toda uma miríade de autores sem necessariamente precisarem convencer editores a publicá-los: bastava ter como pagar pela impressão e/ou divulgação e o livro ou revista estaria circulando mundo afora.

O acesso civil à internet comercial foi outro grande avanço da época, potencializando e ampliando ainda mais a conectividade e conexão entre as pessoas.

Isso significava, em números escusos, que a pornografia tornar-se-ia, como é até hoje, a indústria dominante na internet. Sendo rivalizada apenas recentemente pela indústria das teorias da conspiração.

Lá atrás, nos anos 1990, pessoas que gostam de conhecer realidades e pensamentos muito divergentes da norma já haviam encontrado na ufologia uma fonte inesgotável de barbaridades intelectuais. Relatos de abduções, contato com ETs, acobertamento de projetos secretos como o Majestic-12, Livro Azul, Operação Prato e outros eram matéria viva de seminários, livros, encontros, palestras.

Programas e filmes formidáveis como Arquivo X, Intruders e Dark Skies aproveitavam do seu alcance para ampliar a força de tais ideias, que pertenciam, ainda assim, ao terreno do ridículo, do absurdo, do exagero ou mesmo charlatanismo.

Havia um limite claro entre ufólogos, trekkers e outros fantasistas/conspiracionistas e o mundo real e isso é saudável dos dois lados.

Por um lado, porque a realidade deve se fundamentar nos fatos e não nas opiniões (Como acontece hoje em dia).

Por outro, porque é a contradição da norma que a faz desenvolver. Karl Marx foi muito feliz ao apontar, no "Capital", que a humanidade é dialética e portanto que existe, ou se desenvolve, naturalmente, a partir do conflito ou embate entre ideias divergentes.

A fantasia está de forma estranha expressa na ufologia, mas de uma forma menos boba na obra de Julio Verne; que teve como seguidor fiel e declarado cientistas como Werner Von Braum, que foi o pai do projeto Apollo, que além de levar algumas pessoas à lua, trouxe uma infinidade de progressos reais, factuais à humanidade, como computadores pessoais, GPS e outros.

Ou seja, é preciso que exista o divergente da norma, mas ele não deve se tornar a norma, sob a pena de nos vermos regidos por opiniões não por fatos concretos, com as devidas soluções concretas.

Pois bem.

Ao redor de 2012 (ano maldito previsto pelos Maias acertadamente) pessoas mal intencionadas ligadas às forças políticas dominantes iniciaram uma agenda cujo objetivo era submeter as populações a um regime único (o norte-americano, que na verdade é sionista, utilzando os EUA como fantoche). 

O receio de a China crescer a ponto de sobrepassar os EUA foi o componente econômico que despertou o alerta na Casa Branca, mas como vemos atualmente, talvez tal preocupação tenha sido utilizada como artífice para promover guerras e genocídios favorpaveis aos sionistas.

Como parte dessa estratégia aparentemente calculada vieram mudanças substanciais na agenda cultural e de costumes mundiais, capitaneada pelos EUA. Por um lado, o fortalecimento de movimentos alinhados aos EUA, ou que formem inimigos dos EUA, justificando guerras, golpes militares e ditaduras mundo afora.

Por outro lado, o convencimento da classe média, ou das populações não-exterminadas fisicamente, via imprensa e indústria do entretenimento, exacerbando o que de mais podre existe nas pessoas: egoísmo, individualismo, violência...

Em determinado momento podemos dizer que houve a morte da imprensa, após patrocinar tantos golpes que vieram se provando inúteis um após o outro. Com isso, o senso de "certo e errado" se perdeu.

Desde eras mitológicas a humanidade se apoia na divina providência para escolher entre o certo e o errado. São os deuses e seus ditames que dizem aquilo que deve ou não ser levado adiante.

No pós guerra, devido à forma como Joseph Goebbels conduziu a propaganda nazista nos anos 1930-45, vimos a substituição gradual da divindade tradicional para a imprensa e a ciência. As pessoas pararam de acreditar nos deuses e se voltaram para os aparelhos de TV e mais recenemtente, redes sociais.

Isso acabou ao redor de 2017-18, como produto inesperado de um estratagema aparentemente bem montado décadas atrás: ao invés de as pessoas se curvarem cegamente aos EUA, todos fomos surpreendidos pelo óbvio: o conspiracionismo havia adentrado o limite do real.

Os sinais de que os sujeitos haviam mudado eram óbvios: a substituição de compromissos por tatuagens. As horas de filmagens em vão - o estranho comportamento de filmar e fotografar mais que olhar e sentir os eventos, pessoas e lugares.

Uma tatuagem é algo que não sai. Já reparou quantas pessoas estão fazendo tatuagens enormes? Ou em outras palavras, o quanto estão marcando a pele em definitivo?

Sempre existiram pessoas que gostavam de se tatuar. Mas o que vemos atualmente foge ao que pode ser considerado normal.

Ao mesmo tempo em que se comprometem com um desenho na pele, cada vez menos se comprometem em termos afetivos, sexuais, laborais, de amizade.

A histeria e a esquizofrenia guardam muitos comportamentos em comum. A dissociação da realidade, vivência do individualismo e materialismo são alguns destes traços.

Estaria a população enlouquecendo? Provavelmente.

Talvez por não encontrarem mais o seu lugar, já que o pensamento coletivo estava lutando contra as imposições da mídia e redes sociais? Possivelmente.

Aos milhões, pessoas acreditavam que por exemplo, o virus Sars-Covid2 era uma invenção da imprensa... e morreram. Ou que o vírus carregava um chip 5G de controle social, dentre diversas barbaridades, chegando ao ridículo de um ex-presidente brasileiro correr atrás de uma ema lhe oferecendo uma caixa de cloroquina, medicação ineficaz à covid.

Tomando proporções muito maiores do que as reuniões de ufólogos dos anos 1990, a histeria foi inevitável, sendo manipulada por pessoas interessadas em lucrar na ignorância e doença dos seus irmãos em humanidade.

Uma forma contemporânea de referir a tal histeria é através da expressão "polarização".

O eterno embate entre identitarismo e conservadorismo. Duas aberrações intelectuais que fazem contos de fadas de ETs modificando o DNA do ser humano através de sondas anais para minerar ouro na terra plana parecer uma sessão solene de entrega do Prêmio Nobel.

Uma coisa é acreditar em abdução alienígena (que não existe) e no máximo ser um estranho fechado numa casa até entender que nada desse tipo acontecerá.

Outra coisa é acreditar que por alguém ter votado no presidente Lula ou no ex presidente Bolsonaro já significa dizer estar entrincheirado diante de um inimigo fortemente armado, lutando por sua vida no campo de batalha. Não é o caso.

Mas quando a fantasia toma tais proporções, as pessoas não apenas se evitam, como se matam preventivamente, tanto moral quanto fisicamente. Tal histeria destruiu uma quantidade considerável de famílias, empresas, grupos de pessoas afins e outros.

Ao invés de ser atenuada, o atual governo (Lula) continua a incitar ódio e o discurso do "nós contra eles". Ainda que tenha lançado uma tímida campanha publicitária sobre o programa Farmácia Popular, isso não traz resultados consideráveis na redução do clima de histeria predominante no Brasil.

Ao mesmo tempo, como ocorre em toda histeria, que tem suas raízes fincadas nos traumas infantis, a infância foi a primeira idade a ser abandonada pelos histéricos, defensores da polarização.

Enquanto se degladiavam chamando uns aos outros por "comunista" e "fascista", deixaram a ver navios as crianças e jovens, que foram, infelizmente, cooptados e capturados por propagandas de baixa qualidade, viciados e desvirtuados por não terem tido adultos em casa e na sociedade que olhasse para eles com o rigor e determinação de formar ótimos cidadãos, como ocorreu conosco, nascidos nos anos 1970 e 1980.

Assim, "sem freio", os jovens têm consumido todo tipo de porcaria que atrapalha o seu desenvolvimento, contribuindo para o caos foramdo a partir do óbvio descontrole de pessoas em histeria generalizada.

E eis que vejo esse video acima no Twitter/X.

Um dos ícones da juventude, famoso por posicionamentos reacionários e polêmicos chamado Monark conversando sobre terraplanismo e afins com o ator Sandro Rocha, famoso pelo filme "Tropa de Elite".

Isso me fez sentir aliviado.

Mostra que o pensamento coletivo está rechaçando a histeria dos últimos anos, relegando o conspiracionismo ao seu lugar originário, ainda que tenha abarcado mais seguidores do que antes.

Que excelente notícia saber que provavelmente a histeria está passando e daqui a pouco as pessoas darão menor importância aos erros eleitorais dos outros.

Como possível resultado já vinhamos observando o apogeu e rápido declínio do conservadorismo, em que pessoas idiotas faziam oração a pneus, acampavam em frente ao STF e batalhões do exército clamando "patriotismo". 

Do outro lado, estamos vendo o triste e breve apogeu do identitarismo. Afinal, "caixa preta" não é discriminatório à população negra. Em breve decairá completamente, legando alguns doentes incuráveis e outros eventuais.

A que estamos, então, nos dirigindo?

Provavelmente a um retorno do pensamento coletivo, que é elástico como um pedaço de borracha, ao estado anterior a tais perturbações. Algo como ocorria nos idos de 2008, 2009, algo assim.

Quem sabe observemos o renascimento de músicas mais otimistas e de letra mais otimista, ainda que por vezes rude ou grosseira. Programas e filmes com finais felizes. Aumento da procura e produção de programas e conteúdos mais alegres, alimentação saudável.

Maior alcance e absorção de técnicas e modos de criação de crianças e jovens de forma responsável, carinhosa e visando a formação de cidadãos maravilhosos.

Esforços cada vez maiores a favor de um mundo multipolar, multiético e multi linguístico.

Adesão cada vez maior ao multiculturalismo e sincretismo cultural entre os povos.

O Brasil será o grande destaque. Anotem.

No Brasil todo mundo vira brasileiro e nem precisa saber falar português. É um país e tanto.

Monday, December 18, 2023

Uma história estranha.


Eu raramente falo sobre mim. 
Não sou assunto. Creio não ser interessante o suficiente para chegar ao ponto de falar algo a meu respeito.

Acredito, resumindo bastante o assunto, que eu esteja completamente errado e o mundo esteja totalmente certo. O que eu acredito e penso só faz sentido e se torna verdadeiro para mim, mas tenho completa ciência de que o errado da história sou eu.

Se me orgulho de algo? Sim, ter sido escolhido para ser pai das crianças que temos em casa. E ter sido escolhido como cônjuge por uma pessoa maravilhosa.

Apenas disso me orgulho.

Nem mesmo de ser tão próximo aos Mestres me orgulho, pois tem sido assim desde que nasci. É algo tão natural que me faz suspeitar de alguma relação estrutural entre mim e eles.

Logo, não fiz por onde ser tido em alta consideração por eles. Desde cedo já era assim. E desde cedo eu tenho por eles a maior admiração e espero um dia ter tanta sabedoria quanto eles. Até por isso que eu estudo tanto e busco me melhorar todos os dias.

Essa é a história de alguém que tem um contato tão próximo aos Mestres da Sabedoria que se torna subentendido falar sobre qualquer coisa, pois de alguma forma estará ligada a eles.

A eles pouco importava se eu bebia ou consumia pornografia. Tanto fazia se eu estudava ou não. Desde que preservasse a minha saúde física e psicológica.

Por ironia do destino, foram as poucas pessoas que me aceitaram, desde sempre, como eu sou. 

Nos seus termos, "é muito difícil para uma pessoa mais delicada ou sensível atravessar a face da Terra sem ser tornar viciado ou doente de alguma forma. É como trabalhar diariamente com uma substância química tóxica, sem a possibilidade de se proteger - mais cedo ou mais tarde a intoxicação virá, não pelo caráter do intoxicado, mas por não ter tido as condições de evitar tal problema".

Neste ponto eu sou um anti exemplo. Já bebi demais, já fui estúpido, idiota, já atravessei depressões que muito mais brandas do que as minhas levaram muitos ao suicídio. E cá estou, livre desses e de tantos outros males.

Por sorte? Sim. Por pura sorte.

Essa é a história de alguém que tentou de todas as formas realizar os seus sonhos, mas acabou com isso conhecendo o fracasso numa dimensão que poucas pessoas conhecem. 

Essa história de alguém que foi preterido toda a vida e assim mais ou menos continua acontecendo.

É a história de um menininho alegre que sonhava diariamente com os mundos interiores e em ter reuniões com venerável professor Henrique José de Souza. Ao redor dos 13 anos de idade , veio o sonho de despedida: "meu filho, nos encontraremos novamente e até lá eu te desejo sorte e que os deuses estejam sempre do seu lado".

Assim tendo fim mais uma década de sonhos ininterruptos passeando pelos mundos interiores interagindo com os mestres mais evoluídos de lá no grau de intimidade até perturbador de tão próximo, em diversos sonhos auxiliando os adeptos a pilotarem o disco voador e combaterem as formas mentais e astrais negativas que pairam sobre a humanidade.

Eu tenho o nome de um Sacerdote. No caso, o grande sacerdote de uma região tão evoluída que faz qualquer coisa já produzida ou imaginada sobre a face da terra parecer pouco.

Desde pequeno achei natural receber esse nome, não me pergunte por quê.

E a venerável esposa do insigne professor Henrique de Souza também, nos dizeres ao ser consultada pelo meu pai sobre a intenção de me consagrar com o nome Ariomester: "nome forte, mas ele pode".

Parece o início de um sonho? Tente de novo.

Não tenho o menor interesse em ser como os outros da minha idade são. Mas admito que eu estou errado, indo de encontro a padrões de comportamento tidos como sagrados na sociedade em que vivemos. Ao mesmo tempo, justamente por ter ciência disso que aprendi a criar formas muito eficazes de interagir com todos e ser útil, de uma forma ou de outra.

Digo isso proque eu só falo, neste blog, sobre as minhas crenças e visão de mundo, que provavelmente está completamente errada. Não me interessa adotar a visão dominante, mas se preciso interagir com as pessoas, eu sei exatamente o que eu deveria ser, o que de fato eu sou e como estabelecer uma comunicação muito eficiente.

Aliás, eu tenho mania de ficar ampliando a eficiência de tudo que entro em contato. Tudo que eu faço busco modificar em prol da maior eficiência e com frequência consigo otimizar praticamente todos os processos que realizo ou interajo. É da minha natureza ficar otimizando os processos, coisas... e a mim, visto que duvido muito ser capaz de otimizar outras pessoas além de mim, justamente porque eu funciono a partir de padrões de pensamento não-linear que são bastante exóticos e atípicos, não sendo úteis, sem as interfaces que crio, a mais ninguém além de mim.

Mas, de tempos em tempos alguém me encontra e pergunta sobre mim, o que tenho feito, qual a minha opinião, o que tenho em mente fazer.

Bem, sobre o futuro eu não direi nada, em absoluto.

Mas talvez possa falar um pouco sobre o passado.

Outro dia postei uma foto do meu aniversário deste ano, cujo bolo foi decorado com KitKat branco, em homenagem aos anos 80: saudosos anos 1980... ai ai.

Uma pessoa nascida em 1987 teve a audácia de dizer que não era anos 80 por conta do Kit Kat nas laterais. Quanta ousadia!

Eu logo postei no FaceBook uma foto do meu aniversário em 1986 que tinha bolo decorado com um biscoito parecido com KitKat - o Deditos.

Uma amiga disse "poxa vida, Ari, é sua mãe na foto? Sempre quis conhecê-la"... isso me fez pensar.

Como resultado resolvi deixar algumas evidências do passado estranho deste esquistíssimo autor, deixando mais ou menos claro como eu enxergo a mim e ao mundo, de um modo geral.


Meu aniversário em 2023 - 44 aninhos. Era pra eu ter 1001 doenças e problemas, mas estou novo em folha. Nunca entendi o motivo, parece que o tempo passa mais devagar para mim do que para os demais. Ou estou conservado no álcool. hahahaha segunda opção!




Bolo feito por mim - pão de ló recheado com creme de abacaxi e côco. Recheio bem anos 80... brigadeiro feito aqui em casa também. Decorado com KitKat porque eu errei o ponto do chantilly.



Fiz até barquete!! Como alguém ousa dizer que não era anos 1980? Apesar de ter trocado o recheio de frango, maionese e ervilha por shiitake, mas ok. Barquete.


Viu? Direto de 1986... mas não é minha mãe na foto.

Essa é história estranha de um menininho saltitante e alegrinho que após a morte da mãe, sua melhor amiga, talvez única amiga, se viu envolto num mundo cada vez mais escuro, sombrio e assustador.

Essa história de uma pessoa que não tem o menor orgulho das conquistas que alcançou pois as considera fruto da sorte, exclusivamente. Muito menos se gaba de ter alcançado alguma distinção em alguma coisa que seja pois se considera mais um sobrevivente do que um vencedor.

Essa é a história de um menininho fofo que adorava foguetes e naves espaciais, discriminado pela sua forma de falar, pelas coisas que gostava de falar, pela forma alegre e otimista como via o mundo. Tal pessoa acabou se transformando numa espécie de capitão de submarino da segunda Guerra Mundial. Caçando, sendo caçado, agradecendo a Deus por não ser morto pois esse seria o destino óbvio.

Essa história de uma pessoa que não se curva aos outros e nem a Deus. É a história de uma pessoa que prefere receber o ataque inteiro de pé do que se acovardar e permanecer vivo.

Por isso é sempre mais inteligente evitar o ataque do que ter que se defender de algo.

Essa história de uma pessoa que está 45 anos sendo corrigida, consertada, ratificada, analisada por todos, a bem dizer, mas pouquíssimas vezes na vida foi aceita pelo que é do jeito que é da forma como é.

É sempre assim: meu cabelo está errado, meu jeito de falar está errado, meus gostos musicais e de entretenimento estão errados, eu ter alta formação acadêmica e dar risada disso está errado, ter diversas capacidades exóticas como premonição e intuição e não me portar como um guru está errado.... Estou sempre errado.

Mas algumas poucas pessoas me aceitam como eu sou. E nem sempre gostam das mesmas coisas que eu, mas ainda assim me deixam ser do meu jeito. Começando por todos os Mestres Espirituais que já tive notícia. E algumas pessoas daqui da face da Terra.

Isso é uma coisa tão rara que eu sei nome, sobrenome e a história completa de cada pessoa que me aceitou como eu sou. Podem contar comigo para literalmente o que precisarem. 






Bem, de volta ao passado então. Um dos melhores álbuns da época, na minha opinião.



Esse chapéu da Kylie é demais. É bem a lembrança que tenho dos longínquos anos 1980. Era uma época em que o ar era muito mais puro, a temperatura mais constante, existiam ritmos claros de sono e vigília, para tudo - os bares fechavam tarde da noite, as TVs deixavam de transmitir. Se usava pouco o telefone.

A propósito, eu nunca existiria sem a música.

Foi ela quem deu sentido à minha vida, me entristece bastante ter fracassado como músico profissional. Apesar de ter feito faculdade de música, ter trabalhado como músico de turnê realizando um sonho de toda uma vida - fracassei.

Ainda assim, a música é tudo para mim, é a forma como eu penso, me entendo e vejo o mundo. Aliás, busquei recentemente o caminho do concurso público, já tomei posse num cargo de área administrativa, tanto para ajudar nas finanças de casa, dar um bom exemplo aos filhos... mas manter meu estúdio funcionando, para que eu tenha a tranquilidade de estudar e produzir música sem ficar tão deprimido por não ser capaz de fazer voltar ao menos 1 real investido em mim.

Dia da formatura em música popular. Realização do meu maior sonho.



A lembrança mais antiga que tenho é de 1981. Eu tinha 2 anos, brincava onde hoje em dia meus filhos brincam e minha mãe fazia faxina, usando um vestido que ela sempre vestia em casa. Eu perguntei "mamãe, qual é o meu nome?". "Ariomester", ela disse. "Ariomester", eu respondi.


1981... faz bastante tempo, por assim dizer.

É engraçado dizer isso porque eu nunca me achei de fato "meu". É como se o meu nome não fosse o meu, mas emprestado. Como se eu estivesse no lugar de outra pessoa, que se foi e eu a substitui, como um tipo de alienígena, estranho no ninho. Um invasor, ou alguém emprestado, como costumo dizer.

É como se o meu nome não se referisse a mim. É como se em outro lugar eu tivesse outro nome e estivesse, por algum motivo inexplicável, substituindo um menininho chamado acertadamente "Ariomester".

Desde criança eu me sinto como se fora uma peça desencaixada. É como se eu não pertencesse a este mundo, mas a realidade me prova diariamente que estou aqui e portanto, alguma forte relação entre este mundo e eu deve existir.

Vamos começar essa pequena autobiografia a partir do grande divisor de águas na minha breve história.

O extinto Colégio Pitágoras Pampulha.


Eu ficava sozinho, olhando para a rua deserta, por horas.. ficava olhando o céu e as nuvens. A única pessoa que chegava perto de mim era minha mãe. Ela dizia "posso ficar perto de você?" e eu respondia "claro, mamãe".

Engraçado, o meu filho mais velho é idêntico a mim. Gosta de ficar sozinho quando fica chateado com alguma coisa e fala "é claro, papai". O comportamento é parecido, mas as motivações são diferentes.

Mamãe sentava perto de mim e eu sempre perguntava "mamãe, o que eu estou fazendo aqui? Este não é o meu mundo, por que eu estou aqui?".

Ela dizia que não sabia bem o motivo da minha presença aqui, mas que era algo muito importante e que no momento certo eu saberia. Eu tinha 7-8 anos na época e até agora não entendi qual motivo seria este. Ela dizia que uma terrível alergia de pele que eu tinha era devido à incompatibilidade entre eu e a atmosfera da face da Terra e outras coisas que não devemos violar - segredo de mãe e filho.

A propósito, olha a mamãe:




Foto de 1990-91, algo assim.

Nesta época mamãe estava já no estágio terminal de um terrível câncer de mama. Nos anos 1980 isso era caixão na certa.

Em 1987 elas nos reuniu na sala e deu uma notícia (eu achei que era AIDS): "ela tinha câncer e 4 meses de vida". Na hora fiquei calmo, não fiquei nem triste, nem desesperado, nem nada. Mas acho que foi a primeira vez que senti estar correndo contra o tempo, saindo muito atrasado.

Ela procurou diversos tratamentos, mas eles mais machucavam que curavam. Num deles, de natureza espiritual, foi informada que viveria mais cinco anos. Engraçado que ela estava deitada no quarto e eu de alguma forma consegui ouvir esses Mestres espirituais dando a sentença para ela. Vai entender... hoje entendo.

Ela faleceu em abril de 1992. Mais ou menos um ano após a foto acima. Lembro como se fosse hoje, eu chegando da escola e ela dizendo "ei meu filho, espera... deixa eu ficar te vendo um pouco.. você é tão bonito...". E eu disse "o que foi, nunca me viu?". Ela riu, eu também. Foi a última vez que conversamos.

Neste dia, às 21 ela faleceu na cama bem diante dos meus olhos. Lembro do velório, do clima pavoroso que ficou aqui em casa até recentemente. Acredito que papai nunca se recuperou da perda da mamãe, meu irmão também não.

Ironicamente eu fui a única pessoa que "voltou ao normal". Nunca entendi o motivo.

Quase 30 anos mais tarde eu passei por uma depressão muito forte. Eu ficava vendo vídeos de pessoas morrendo e pensava "deve ser bom". Era algo desse nível, não tratado pela psicóloga com a qual eu fazia terapia.

Ela dizia que era autismo, que era para eu perdoar meu "menino interior". Eu não suicidei nem dessa vez e nem quando eu tinha 14-15 anos. Na primeira vez, estava com todos os venenos pronto para dar fim à minha vida, quando ouvi alguém me perguntando se faria diferença eu deixar isso para o dia seguinte, já que eu estava tão convicto.

Debochei da voz misteriosa e adiei. Mas só me lembrei que devia ter suicidado muitos meses mais tarde.

Sou bom perdedor. Apostei com a voz do além e perdi, então nada de suicidar, mesmo que as coisas fiquem muito ruins. Combinado é combinado. O bom capitão vai para o fundo do mar com seu navio.

Depois de ter passado pela depressão fortíssima de 2019-22 eu consultei com uma outra psicóloga que disse "você teve muita garra para sair da depressão sozinho, sem medicação e sem terapia". 

Eu agradeci as lindas palavras, mas para mim não faz sentido. Eu só esperei passar e passou, após 3 anos. Normal, não?

Para mim foi como esperar passar uma dor de barriga ou chuva forte. E não algo que leva pessoas normais ao suicídio. Como eu disse, nem de brincadeira eu sou normal. Sou uma aberração.

É como eu sou - tenho uma aparência mais jovem que o normal; consigo transferir o sofrimento de pessoas próximas para mim livrando-os de enfermidades leves como dores. Aparentemente tenho livre tráfego no inferno, por isso entrei e saí da depressão sozinho.

E desde então nunca mais consegui ficar deprimido. Criei uma espécie de anticorpo psicológico que automaticamente me impede de deprimir. É curioso.

Sou uma pessoa extremamente sensível, mas inquebrável. 

Estranho.

No ano de 1989, o menino ultra sensível que adorava ciências, mas não tinha muitos amigos (eu) foi estudar no Pitágoras Pampulha, junto ao seu irmãozinho Artênius. Foram 3 anos que coincidiram com o agravamento da doença da minha mãe.

Ali era complicado - eu era dos poucos não-brancos da turma. Meus colegas eram crianças razoavelmente mimadas e muito ricas, filhas de empreiteiros, senadores, grandes empresários....



Uma das turmas foi patrocinada na olimpíada da escola pela Egesa. No ano anterior, pela Cowan. Os herdeiros dessas empresas eram meus colegas de sala.

A lembrança que tenho do Pitágoras era ficar andando sozinho pela escola, vagando pelos corredores e pátios na hora do recreio. Sem ter com quem brincar, sem ter amigos. Na verdade tinha um menino que ficou meu amigo, mas era, também, amigo dos outros da sala e eles passavam mais tempo juntos do que comigo.

Muitas vezes zombavam de mim, através de ironias e ofensas - devido ao meu nome, minha cor de pele, minha situação financeira, meus interesses. Eu não tiro a sua razão, por mais estranho que possa parecer.

É como se eu tivesse um atraso no desenvolvimento muito severo. Hoje em dia eu tenho 44, mas é como se eu tivesse 24. Quando eu tinha 11, era como se fosse 5 e assim por diante. Nunca consegui acompanhar as pessoas da minha idade, era como se eu estivesse muito atrasado em relação a elas.

Meus três anos no Pitágoras explicitaram essa peculiaridade e serviram para eu fundamentar o que me tornei. Vamos dar uma volta no Pitágoras Pampulha?

Além da biblioteca, havia uma sala de informática. Isso, eu tive aula de informática em 1989...


Um enorme átrio central. De vez em quando as crianças sentavam e falavam sobre quem elas estavam "ficando" e eu ficava olhando, tentando entender o que seria isso. Não sentia nada dessa forma, era como se eu fosse 4 anos mais novo que elas.


Tinha uma tirolesa que cortava o playground de fora a fora. Andei nela poucas vezes.


Acho que nadei nessa piscina umas duas vezes.


A partir dessas experiências comecei a pensar sobre qual a melhor forma de agir. E o que pareceu óbvio era que seria necessário manter-me intacto. É como se cada um de nós trouxesse dentro de si algum tipo de luz ou cristal precioso que vai sendo gasto durante a vida.

Eu destruí todos os meus sonhos, abri mão de tudo (exceto meu cabelo - nem pense nisso!) para manter intacta essa "essência", que é tão óbvia nas crianças. Passei a vida toda meio que evitando pessoas e situações que potencialmente poderiam gastar ou alterar essa essência.

Isso é bom? Não sei, mas até hoje parece o certo, para mim. Outras pessoas são diferentes, pode ser que não faça sentido algum para elas.

Eu já era uma pessoa solitária e isso foi consolidado nos três anos no Pitágoras Pampulha e até hoje ainda deixa notáveis rastros no meu jeito de ser. Tanto que eu não falo a meu respeito, já reaparou nisso?


É incrível a semelhança do meu filho mais velho e eu. na foto, minha tia, que era acordeonista e seu pai, meu avô, regente da banda do Corpo de Bombeiros de MG. Sim, sou neto de maestro e filho de professora de piano...


Ariomester e Artênius ao redor de 1983-4



Foto de quando asfaltaram a rua aqui de casa, pelos idos de 1982-3, algo assim.



É big, é big....



Mamãe (camisa listrada) lá no barraco onde eu nasci e cresci por dois anos. Muitas saudades...


Minha avó paterna, Eudóxia. Ela fritava biscoito de polvilho e fazia cuscuz com queijo. uma receita que faço até hoje, bebo com chá mate e ninguém entende porque eu gosto tanto...


Conviver com pessoas tão diferentes e oriundas de situação familiar e social tão diferente foi um divisor de águas para mim. Até então eu lidava com pessoas da minha classe social ou mais pobres e era muito feliz.  Sempre fui próximo às pessoas pobres e me identifico como alguém pobre.

Muitos anos mais tarde, lendo "O Tibet e a Teosofia" e também "À Sombra dos Mosteiros Tibetanos" entendi o caminho direto, seguido pelos lamas orientais e do oriente médio de antigamente (tipo muitas e muitas das minhas encarnações passadas - a maioria). Neste sistema espiritual, aos 8 anos de idade (1987, no meu caso), as crianças eram levadas para dentro de mosteiros onde se desenvolviam espiritualmente.

Adquiriram conhecimentos e habilidades transcendentais e até sobrenaturais, segundo as pessoas comuns. Se mantinham numa pureza de intenção e física inimaginável a qualquer um. E aos 28 anos eram expulsas dos mosteiros, para viver na pobreza por pelo menos 14 anos.

Nessa época tornavam-se mendigos e deveriam sobreviver somente a partir da boa intenção de estranhos que lhes davam esmola e comida, assim mantendo a mente elevada, de modo a gerar tanto karma positivo que nunca morreriam de fome, aceitando tranquilamente a morte se não fossem capazes de, através de uma disciplina assustadora, manterem suas mentes livres do mal.

Não me incomoda alguns serem muito ricos e esbanjarem fortunas. Honestamente, não me causa nada.

Mas eu prefiro não me relacionar e nem compartilhar da mesma mesa e comida que eles. Não gosto da sua vibração, acho-a ruim, desequilibrada e a proximidade a eles me induz ao erro de julgamento repetidamente. A proximidade a alguns tipos de pessoas: materialistas, pessoas relacionadas à alta burguesia, religiosos moralistas, falsos intelectuais e outros me faz menos assertivo com a intuição, por isso os evito ao máximo.


O ano era 1999. Fui obrigado a cortar meu cabelo porque ele estava a um ponto de dar fungo hahahaha eu não cuidava bem, mas de 2001 em diante voltou ao comprimento adequado para mim.


"Ari, mas você não tinha um monte de amigos quando jogava basquete nos anos 1990"?

Aham. Muitos!

Eram todos pessoas simples, gente tranquila do meu bairro. Não eram como os filhos  de empreiteiros do Pitágoras ou as patricinhas pobres do Promove Pampulha, colégio em que estudei de 1992 até a1997.

Meus amigos eram pessoas que assim como eu andavam de ônibus pra cima e pra baixo e isso era normal. Gostavam de rock, de fazer zoeira, beber nossa cerveja. Gostávamos de jogar basquete, ir aos shows e ficar divertindo. 

Foi a segunda lição.

Apesar de serem pessoas menos perigosas em relação à danificar a minha essência, não eram tão afeitos à ciência e intelectualidade quanto eu. Mas veja bem, eu sempre fui um dos piores alunos da sala.

Minhas notas sempre foram muito baixas e por muito pouco não fui reprovado em todas as séries desde a 5ª até o fim do ensino médio. Nunca fui aluno exemplar, nem aprendia muito nas aulas.

Após o ensino médio eu fiz vestibular. Primeiro, Ciências Biológicas na UFMG, não passei para a segunda etapa (zerei a prova de física). Depois, para Engenharia Mecatrônica na PUC-MG. Se eu gostava de matemática e física? Sempre fui péssimo em ambas as disciplinas.

Uai, se não era proficiente em matemática e física, por que fazer engenharia?

Porque eu sentia que precisava aprender mais sobre esses assuntos e lá no final dos anos 1990 não existiam tantos canais do YouTube como hoje em dia. Nem o Google existia, se não me engano. Pesquisávamos no Altavista e no Yahoo.


Meu pai, eu e meu irmão (1982).




Meu pai, eu e meu irmão (2013).

Reparou que existe uma certa semelhança entre os óculos do meu pai e os meus? Pois é. A primeira vez que precisei de óculos tinha 19 anos. Para economizar, meu pai me deu uma armação que ele tinha e não estava usando. Depois eu troquei de armação, mas sempre mantenho este modelo.

Quando eu vou comprar óculos, os vendedores dizem "você não tem idade para usar esse tipo de armação". Tenho!

Os anos passaram e eu continuei me sentindo uma peça solta.

Com o passr do tempo, sobretudo quando eu estava estudando no Promove Pampulha, comecei a considerar mais interessante a estratégia de ser visto o mínimo possível, tentar me fazer invisível.

Isso significa aprender rapidamente como as pessoas se comportam, antecipar seus comportamentos e nunca estar no seu campo de visão, ou atenção. E significa frustrar profundamente e de propósito as pessoas que parece ser melhor não se aproximarem.

No Promove eu não era discriminado, tinha vários conhecidos, era muito bagunceiro. Era péssimo aluno, minhas notas sempre foram baixas, mas eu divertia bastante. Nessa época eu comecei a tocar bateria...


Ari e suas baterias...


Oi, quer conhecer minhas baterias? hahahahaha




Esse kit foi comprado em 1995 e fabricado em 1992. Até hoje está comigo, foi meu segundo kit. Ostenta a gloriosa bandeira do império Klingon. Q'aplá! Na época da engenharia o pessoal me chamava de Klingon porque eu não era exatamente delicado.


Essa maravilha eu comprei na fábrica, em Campinas, em 2004. Coisa linda, viu?


"Klingon"


Klingon



Lá pelos idos da 7ª série as meninas da minha sala começaram a implicar comigo. Isso foi uma das coisas que me despertou a atenção para uma estratégia de invisibilidade. Elas ficavam me chamando de... ARI. e ARIZINHO. 

No início eu odiava, exigia ser tratado pelo meu (não) nome, Ariomester. Mas logo isso se mostrou inútil e aí que o apelido pegou e ficou. Como eu sou irmão do Artênius, que chamavam por TT, eu virei "Memê". Quem é muito antigo acaba me chamando assim até hoje. É engraçado.

Dúvida legítima: se eu tinha algum envolvimento afetivo ou sexual com essas meninas? Não, com nenhuma delas, nem da sala e nem de fora dela, nem no passado e nem no futuro.

Eu e meu irmão formamos bandas com nossos amigos. bandas de metal, de rock, hardcore, coisas desse tipo. Ele tocando teclado e eu tocava bateria.

Recentemente fui aprovado em concurso público da área administrativa e receberei uma alcunha do tipo "Auxiliar Administrativo", mas por décadas me descrevo como "músico". A música é muito importante para mim.

Nada é mais valioso para mim do que a música. E assumir uma função de trabalho fora dela é como ir fritar pastel na feira: paga as contas, dá um sentido para os filhos seguirem, mas não é algo que eu tenha profunda relação ou identificação. Com a música, a conversa é outra...

Aliás, eu busquei o caminho do concurso para ter alguma previsibilidade na vida, dentre outras coisas, para me dedicar melhor aos meus projetos musicais. Eles não darão certo, não serão um sucesso, mas não tem problema - são meus.

A arte e a intelectualidade são como alimentos para mim. Da mesma forma o é a realidade. Sem isso eu literalmente adoeço. Após a graduação em Música (2017) sofri bastante, fiquei doente muitas vezes e passei por uma depressão muito forte.

Isso melhorou quando comecei a estudar para o doutorado e agora para os concursos. Meu corpo sente falta da arte, da realidade e da intelectualidade. Não sei por qual motivo é dessa forma, mas é um fato que eu sinto muita falta dessas coisas.

Quando terminar o doutorado penso em fazer uma graduação em química. Área maravilhosa que sei pouco... mas não vou ficar falando sobre o futuro, como disse.




Estúdio Rua Cinco, antigo IML - Istúdio Mais Legal

Quando era aluno da engenharia vivia um dilema: eu dava muita atenção aos shows e aulas de música e pouca atenção à engenharia: era reprovado com frequência, minhas notas eram baixíssimas. Para manter o padrão, né?

Em determinado momento decidi que deveria tentar ser músico e pronto. Tranquei a matrícula e no mesmo dia me registrei na Ordem dos Músicos do Brasil. Meu pai ficou transtornado com isso.

O seu pai era maestro, mas também alcoólatra e cabia a meu pai buscar meu avô, bêbado, nos bares. Por causa dele que eles, pobres morando no aglomerado da Serra em BH, precisavam trabalhar desde os 8 anos de idade, vendendo doces feitos pela minha avó. Dentre outras coisas desse tipo.

Ele insistiu que eu fizesse algum outro curso e decidi pela Psicologia.

Desde os meus anos no Pitágoras eu tinha criado o hábito de observar as pessoas em seu estado natural. E criava minhas próprias teorias e explicações sobre o seu comportamento. Decidi estudar psicologia para conhecer outras teorias a respeito disso.

Mais uma vez eu fiz um curso superior sem intenção de me profissionalizar, mas somente enquanto alimentação para a mente e espírito.

Nessa época eu trabalhei como músico, como eu sempre sonhei: viajando com um artista, dando aulas, fazendo 130 shows por ano em todo o estado de MG, nos principais rodeios e exposições agropecuárias.


Encontre o Ari. Tá fácil.


Num dos shows das turnês da dupla Fred e Paulinho, em 2008.


Num dos últimos shows que fiz com a dupla Fred e Paulinho haviam 17 crues no camarim. Eram 17 pessoas na equipe. Achei curiosa coincidência, mas ninguém morreu neste dia.

Nesta época, numa conjunção de fatores muito esquisita, eu me tornei Coordenador Regional da Ordem do Ararat em Belo Horizonte. Eu viajava com a dupla sertaneja no final de semana e nas terças-feiras dirigia o Ritual e a reunião da OA em BH.

Após mais ou menos um ano fui interpelado em São Lourenço por uma pessoa que parecia um mendigo. Ele veio diretamente até mim e ordenou que eu parasse de trabalhar com a tal dupla. Eu acatei a ordem.

Eu não dou muita bola para quem fala, mas toda bola para o que é falado. E assim foi.

Um mês após eu sair da dupla conheci a Professora Angela Maria Ribeiro, que me convidou para fazer Iniciação Científica na área de Neurociências da UFMG. Segundo ela, fui a única pessoa que convidou para trabalhar no laboratório.

Era uma pesquisadora muito requisitada e capaz, criou o Programa de Pós Graduação de Neurociências da UFMG...


Cosplay de cientista. hahahahah 




Minha banda em um dos seus últimos shows.

Eu fui profundamente mudado pela música.

Em especial a música composta pelo meu irmão em parceria com a nossa amiga Jennifer Souza. Tipo essa aqui, composta sobre mim, pelo meu irmão (e Jenninha). Sobre minha mania de ficar olhando para o céu e coisas da época de criança que existem até hoje:




Bons tempos...


O meu sonho era fazer uma graduação em bateria - música popular.

Desde que comecei a tocar bateria, mais ou menos aos doze anos de idade, eu já sabia que tudo seria secundário na minha vida. Sabia que não acharia graça nem vocação em mais nada e assim tem sido desde então.

Eu aprendi a fazer muitas coisas (tipo bolo de aniversário coberto por KitKat), mas nada delas de fato me representa. A música popular, no caso, a bateria, sim. É isso que eu sou: um músico, baterista, que realizou o sonho de completar o bacharelado em Música Popular.

Eu mal ia ao laboratório quando fazia Mestrado. Ficava estudando para o vestibular de Música Popular - Bateria, na UFMG. A prova foi exatamente um mês após minha defesa de Dissertação.

Ao contar para o meu pai que passei em primeiro lugar entre os bateristas e percussionistas, ele ficou profundamente triste. Disse para eu trancar o curso e fazer outra coisa da vida. Disse que aquilo não era para mim, que não daria futuro algum e que seria errado eu prosseguir.

Isso me fez afastar um pouco dele pelos próximos anos.

Nessa época ele adoeceu de Alzheimer e por ironia do destino, morreu nos meus braços. Eu que trocava a sua fralda, fazia a barba nos meses finais... é a coisa mais estranha: um filho limpar a fralda de seu pai. E ainda mais estranho sendo que ele se posicionava clara e diretamente em contraposição ao meu maior sonho. E aos menores, também.

Mas são coisas que eu fico meditando atualmente. Na época, fiz tudo que pude para cuidar dele, da melhor maneira possível. Dani me ajudou tremendamente, assim como a Rose e até o meu filhinho mais velho.

Lamento não ter conseguido fazer mais ou melhor por ele, mas são sentimentos difíceis e conflitantes: ele que nos ajudava financeiramente, era alguém que por mais que tenha me comprado instrumentos musicais, sempre dizia que era uma brincadeira, bobagem, uma coisa inútil. Mas aos trancos e barrancos eu escolhi cuidar dele, ao invés de fingir que estava muito ocupado, lhe virar as costas e vê-lo morrer.

Eu o vi morrer, nos meus braços, mas não senti alívio algum: senti, novamente, um fracassado por não ter pensado em todas as possibilidades e talvez ter conseguido ao menos que ele tivesse um final menos triste. Mas é difícil saber, pela manhã o encontrei caído em casa, tentamos reanimar, sem sucesso, chamamos a ambulância, mas nem os médicos conseguiram identificar o que causou a morte.

Fica mais uma lição para mim: prestar mais atenção. Não ser tão irresponsável a ponto de não considerar todas as possibilidades, até mesmo as menos prováveis, como parece ter sido o caso.



Music and me


Dia de formatura!!!


Papai e eu, março de 2018.


Pessoas importantes.


Pessoas muito importantes.


Tricampeão!!! Bacharel em Psicologia, Mestre em Neurociências e Bacharel em Música Popular!! No momento, doutorando em Música. E assistente admninistrativo numa autarquia estadual (vamos dizer que seja, por hipótese, o IMA-MG).



Eu assumo ser um completo idiota.

Quando eu tinha 25, era como se eu tivesse 9 ou 10, nada além disso. Isso trouxe consequências terríveis do ponto de vista social e de relacionamentos, até porque eu não relacionava com ninguém. 

Sempre tive um pouco de aversão a encostarem em mim, não sei por qual motivo eu prefiro que não encostem. Imagina todas as consequências disso.

É engraçado, pois muitas vezes eu gostaria de abraçar as pessoas, mas eu não podia, porque somente em chegar perto delas e encostar eu sentia meu estômago revirar, calafrios, sentia-me perdendo grande quantidade de energia. Por isso abordagens indiretas eram mais adequadas e assim tem sido, mais ou menos, até hoje.

Tarefas intelectuais ou mesmoque demandam emoções não me cansam; ficar perto de pessoas geralmente não me cansa, mas se encostam em mim é como se um tanto de energia fosse drenada para as pessoas e por esta razão eu raramente fico perto o bastante para encostarem em mim.

Já teorizei tudo que sei sobre isso mas nunca cheguei a um veredicto.



The Red Devil Boat - U-552 (Capt. Erich Topp)


A minha vida pode ser definida a partir de duas palavras: sorte e coincidências.

Eu tenho muita, mas muita sorte. É inacreditável o quanto eu tenho de sorte. Do tanto que fracassei, era para estar arruinado, mas cá estou firme e forte, porque tive sorte.

Quando eu era criança, era aficionado pro aviação, sobretudo aviação militar da segunda guerra mundial. Eu comprava revistas e sabia todos os modelso e suas particularidades. À medida que fui crescendo comecei a ver mais graça em submarinos do que aviões.

Quando eu tinha 22-23 anos comecei a estudar mais detidamente sobre os submarinos, especificamente os alemães da II Guerra Mundial, os chamados u-boat (unterseeboot). Foram navios de guerra que lograram grande êxito contra os aliados, mas também foram as unidades que mais perderam pessoal durante a guerra (cerca de 75%).

Passei a ler a biografia dos seus capitães e histórias de seus feitos. Existe uma afinidade forte entre eu e eles, mas nunca entendi muito bem a relação. Eram caçadores/predadores, de certo modo eu também sou.

Essas coincidências são engraçadas.

Eu nasci no dia 25/5 - 5 e 5x5=25. Numa sexta-feira, dia ligado ao chamado "Quinto Senhor" no ocultismo transcendental. Ele mesmo, que já apareceu inumeras vezes no meu sonho, sempre muito cordial e íntimo comigo, como se eu fosse seu amigo de longa data.

Quando eu vou fazer matrícula, frequentemente recebo algum numero múltiplo de 5, tipo 65, 75, 55 etc. Sem fazer ideia do que era o Quinto Senhor, sempre tive interesse por pessoas que eram suas manifestações, sem fazer ideia de quem eram.

Eu sou assim - meio que encontro as coisas por acaso, sem saber. É como se eu fosse capaz de acertar um alvo mesmo sem ver. 

Nos idos de 2003-2004 comecei a frequentar mais assiduamente a Sociedade Brasileira de Eubiose, onde meus pais se conheceram e fui consagrado ainda bebê. Durante a infância tinha muitos sonhos com os Mundos Interiores e os Mestres, sobretudo o Professor Henrique José de Souza, mas nunca frequentei o Departamento da SBE até 1998.

Eu comecei a frequentar e parei, duas vezes, porque as pessoas tratavam meu pai de uma forma desleal.

É da minha natureza sentenciar e se considero algo ruim, eu dou as costas e vou embora. É preciso um motivo muito grande para eu manter próximo ao que não vejo sentido ou discordo.

Nessa época eu bebia muito. Quando parei, porque estava cansado de acordar cheirando a bebida e só parar de tremer quando bebia, passei a ficar longos períodos isolados em São Lourenço/MG. Eu ia aos Rituais, mas não estava lá para purificação nem nada parecido - só queria ficar isolado por lá um pouco.

Acredito que isso moldou muito a minha forma de ser.

Eu sempre fui muito sozinho, logo, não tinha noção de como as coisas são. Até hoje me espanto ao descobrir coisas tidas como comuns, em tudo (sem exceções).

Por exemplo, vi num podcast alguém dizer "quem bebe cerveja, não bebe duas latinhas... Bebe um engradado".

Eu levo de um a dois meses para beber uma garrafa de vinho sozinho. 

Isso até hoje traz problemas, pois eu não me importo com o valor do que tenho ou faço. Para mim não é nada demais ter mestrado. E nem ser doutorando.

Não representa um degrau adiante numa escala social ou profissional. Não significa vitória, conquista e superação. Não me faz sentir melhor que os outros, tanto que geralmente minhas roupas são simples, surradas e eu não importo. Gosto de ser como pode mais simples são.

Isso é sentido pelas pessoas como uma afronta ou ofensa, pois têm enormes dificuldades em alcançarem os mesmos resultados que eu. Honestamente, não faz diferença para mim.

A verdade é que não sei o que é normal, em termos de relacionamento interpessoal, afetivo etc. Eu cresci literalmente sozinho e não aprendi o que seria normal.

Nesse sentido, meu comportamento sempre parece artificial porque de fato ou é fundamentado em deduções que podem ser imprecisas; ou seguem padrões naturais para mim porém exóticos para praticamente todo mundo.

Recentemente consegui finalmente purgar da minha mente resquícios da influência do meu pai. 

Isso fazia eu sentir como se fosse especial e portanto, que deveria buscar algum tipo de status o qual venho combatendo desde criança. Dentre outras formas, forçando a viver como os mais simples, se viciar como eles, adoecer como eles.

O resultado é que fiquei feliz. Tudo parece tão divertido... É como se a infância tivesse voltado. 

Vou trabalhar num cargo de nível médio que paga menos que um salário mínimo, enquanto estudo para o doutorado. Estou adorando. Parece muito bom esse trabalho simples.

É a pureza da infância, protegida adequadamente, que agora teve sua vez de eclodir. 

Ao mesmo tempo consigo buscar trabalhos melhor remunerados, porque tenho os pés no chão. E tenho certeza que será, também, maravilhoso.

É como voltar a ser criança no que tange a como vemos o mundo, sem ser vulnerável a um mundo inexplicável, cruel, grosseiro e ilógico. É o capítulo final da História sem Fim.



Essa sucata foi o primeiro Boeing 737 da América Latina, se não me engano. No Brasil, foi o primeiro a ser operado, como PP-SMA. Virou enfeite num centro gastronômico em Lagoa Santa.


Intuição sempre foi uma constante na minha vida -  clarividência, premonição, precognição, percepção extra sensorial... desde muito tempo sinto como se estivesse sendo orientado por Mestres espirituais que me orientam cada vez menos, pois a sua orientação era na verdade um treinamento para que eu, em algum momento do futuro, seja como eles.

Por outro lado, viver entre pessoas pouco compreensívas dói. Faz ter uma baita preguiça de tudo pois nada faz grande sentido. Me fez criar gosto por bebida, mas nunca precisei ser internado nem fazer tratamento de fígado.

Ainda assim, eu bebia muito, acredito que em boa parte para tentar sentir fora deste mundo, de fato. Para poder imaginar vivendo num mundo onde as pessoas possam ser abraçadas sem drenarem minha energia; onde poderemos conversar sem pressa sobre qualquer assunto; onde aprender a fazer coisas não seja um compromisso em mostrar para o mundo, através do trabalho, que se aprendeu algo novo.

Aprender por aprender. Falar por falar: meu sonho.




Meu aniversário, quando eu tinha 18-19 anos. 


Enquanto o tempo urge para os demais, é como se para mim estivesse parado. É estranho.

Literalmente eu sinto "qualquer coisa eu terei uma nova encarnação, em outro lugar, com outras pessoas e tudo bem". 

Ainda que eu não me considere idiota, eu sei que é assim que tenho sido visto desde criança. E também sei que nada faz isso mudar. Nunca entendi o motivo e nem me machuca.

Como eu disse, sou uma peça solta. Por isso não sinto que esteja atrasado, mas percebo que estou. Percebo que alguém da minha idade deveria ter comportamentos, ideias e aspirações muito distantes das minhas.

Prefiro assumir ser um fracassado e tudo fica ok. É fácil provar o quanto eu fracassei e o quão pouco me importa vencer. Eu só preciso da música (pode ser Banda Calypso, adoro) e de alguma coisa inteligente para ficar pensando, aprendendo e refletindo.

Curiosamente, as pessoas que me tratam bem ou ajudam acabam logrando grande êxito em suas vidas. Nunca entendi o motivo de eu ser um talismã de boa sorte para quem me ajuda, mesmo que não me conheça.

E nem por qual motivo poucas pessoas podem se aproximar. A história mostra que as pessoas que se tornam muito próximas a mim, exceto algumas raras exceções, enlouquecem. Elas perdem completamente a razão.

Talvez eu seja muito tóxico e faço bem em manter os outros afastados de mim, para o seu próprio bem.


Ari do lado da menina que gostava, chamada Melissa. Ela nunca saberá, assim como tantas outras pessoas jamais saberão o que penso ou sinto por elas.


Essa ideia de carregar alguma essência preciosa é complexa e me acompanha desde que eu era bem pequeno. Por isso mesmo quando eu gostava de alguma pessoa, era necessário tentar atravessar esse sentimento a nado, sozinho, na minha mente.

Ao invés de fazer uma linda declaração ou se tornar amigo, era a regra do silêncio. A regra de criar monstros interiores e vencê-los em seu jogo. Isso fez de mim uma pessoa razoavelmente calma.



Vamos supor que toda regra tenha uma exceção.

Pois é. Uma das estratégias que eu usei para lidar com os sentimentos foi escrever num papel que eu gostava muito da Melissa. Meu irmão e o amigo, que mesmo sendo mais novos já tinham um desenvolvimento emocional bem maior que o meu, são normais, acharam o papel e ficaram zombando de mim.

Eu fiquei irritado, empurrei o irmão pelo pescoço na parede que ele ficou até sem ar.

Mamãe interveio e isso nunca mais foi assunto. Eu era uma pessoa muito agressiva. Na verdade, continuo sendo extremamente agressivo, mas hoje em dia é difícil algo me tirar do sério; e quando tira eu fico meditando a respeito desse absurdo capaz de me tirar do sério.

Depois mamãe me perguntou o que aconteceu - eu expliquei e ela disse "essa menina deve ser muito especial. Se ela chamou a sua atenção, algo que ninguém consegue, deve ser muito especial mesmo". Saudades da mamãe.

Muitos anos mais tarde, totalmente por acaso eu conheci a Dani, que está casada comigo desde 2017. Por muitos anos eu achei que ela iria perder a paciência e colocar uma bomba no meu carro. Não porque ela desse sinais de que faria isso, mas porque nunca tinha tido notícia e nem considerado a possibilidade de alguém não enlouquecer tão perto de mim.

E agora temos dois preciosos filhinhos lindos. Menininhos maravilhosos, que me fazem sentir profundo orgulho e sorte por ser seu pai.

Toda regra tem exceção.


Da direita para a esquerda: Ariomester, a exceção e a exceçãozinha mais velha.


Ari, a exceção e duas exceçõezinhas fofas.

Uma coisa é preciso dizer para que esta breve autobiografia faça sentido: eu tenho muita sorte. Muita, mas muita mesmo!

Tantas coisas poderiam ter dado completamente errado e deram certo. Foi sorte.

Ou, na linguagem das minhas encarnações anteriores, karma bom mantido pela mente elevada. Se a mente é elevada (verdadeiramente) é porque existe uma essência muito bem protegida e desenvolvendo-se no seu ritmo necessariamente lento e inevitável, purificando e eucaristificando o corpo para que se torne uma forma de tal essência interagir com a realidade materia/objetiva, sendo ela a realidade espiritual/subjetiva e todo o resto belíssimas ilusões de ótica.

Coisas aí para pensar.


Graças à Dani eu conheci lugares maravilhosos, como o SESC de Grussaí/RJ.



PS: Ari, como as pessoas perdem a pureza? À medida em que vão abandonando a vivência real dos sentimentos, substituindo-os por fantasias criadas, muitas vezes, por terceiros. Uma criança não diz a outra "prezado amiguinho, espero que esta conversa o encontre bem". Ela dará um abraço afetuoso no amigo, ou lhe dirá coisas lindas e espontâneas.

A criança jamais tratará sua vida a partir de generalismos. Não dirá "crianças sofrem agressões domésticas". Dirá "papai (que tem nome e sorenome) me bateu".

Quando o sujeito troca essa rara e poderosa experiência de subjetivação, de se tornar um sujeito individual (por mais pleonástico que isso possa soar), por um "papel ou personagem social", começar a quebrar a linda essência que existe dentro de si. 

Ao substituir a vivência singular e intransferível das coisas felizes e tristes da vida por generalismos, sufica e faz encapsular tal essência, que se não quebrou (o que é o mais provável), manifestar-se-á através dos erros, dores, sofrimentos, fracassos etc.

O sujeito que passa a substituir a vivência individual das coisas por generalismos, regramentos tolos e identitarismos acaba por estraçalhar a sua essência - perde toda a espontaneidade, alegria de viver, interesse em estar perto das outras pessoas, sonho ou ideal de fazer bem ao maior númerod e pessoas possível.

Frequentemente viverá em crise. Com enorme segurança posso dizer que terá forte medo de morrer ou de perder o pouco que julga merecer ou tenha acumulado em vida. Mesmo sem perceber, apoiar-se-á em conceitos e valores vagos, como as posses, poder, dinheiro, admiração, consideração.

Por isso os Adeptos gostam de se transfigurar entre mendigos, pedintes e pessoas muito humildes; por isso gostam tanto dos pobres e os defendem tanto - porque o pobre, ainda ingênuo talvez em virtude de menor capacidade inteletual - é espontâneo.

O pobre é muitas vezes incapaz de criar uma fantasia sobre si e viver dentro dela. Ou seja, ainda que inconscientemente está vivendo de forma singular, fazendo uma feliz encarnação, por mais triste que seja sua condição objetiva-material.

Por outro lado, muitas pessoas de classe média e alta vivem experiências fortemente mediadas por símbolos, signos, definidores de status e outras coisas estranhas ou alheias à sua individualidade. O pobre, do povão, é tido como rude porque não se ajusta aos padrões de comportamento da "elite".

Por outro lado, a aristocracia criou até mesmo formas "corretas" de segurar o garfo e faca, tamanha a restrição à espontaneidade e individualidade. Em concertos de música erudita, por exemplo, há o momento "certo" para aplaudir. Dentre outras regulações que acabam sufocando a pobre essência dentro de cada um de nós.

Não é tarefa simples reverter essa situação na vida adulta, sendo mais provável criar condições em vida, mesmo que pareçam alienígenas, para numa próxima encarnação nascer mais fortalecido em relação À sua essência e num ambiente menos hostil a ela.

Para reverter esse quadro é preciso que o sujeito retome as experiências individuais e de espontaneidade, o que nem sempre é possível. Nomear todas as coisas e situações, ser sempre muioto específico, não se deixar guiar por rótulos ou signos.

Se o amigo o traiu, não foi um "ato de desonestidade de uma pessoa de confiança". Foi, literalmente "FULANO (que tem nome) me traiu... disse a CICRANO (que tem nome) A, B, C, D (coisas muito específicas) sobre mim". 

Assim como a criança olha um sorvete e fala "papai, quero sorvete", sem se atentar se seria boa hora, devemso retomar a mesma espontaneidade - não pautar nossos desejos pelo que é "adequado ao momento", mas sim o nosso comportamento ao que for adequado. 

O que isso quer dizer, na prática? Se der vontade de abraçar um amigo, o abrace. A não ser que abraçá-lo cause sérios problemas. Se está com raiva, fale, a não ser que isso cause um transtorno muito maior do que a raiva que estava sentindo. Se está com vontade, se deixe sentir a vontade, mas realize o desejo somente se for adequado - uma pessoa com diabetes deve evitar doces, por exemplo, mas não precisa parar de sentir vontade de comê-los.

É difícil para quem já é bastante adulto, porque muitos desses maneirismos acabam sendo o substrato sobre o qual o sujeito se edifica ao final da adolescência. Ou seja, romper com isso pode representar a uma pessoa que "morre de medo" de morrer, a própria morte psicológica.

Por outro lado, ao ser capaz de vivenciar a experiência de ser um sujeito individual a própria existência muda de significado. A morte passa a ser apenas algo passageiro e mesmo as piores situações não parecem tão ruins assim. Sentimos à vontade em praticamente qualquer lugar, fazendo qualquer coisa.

A isso os budistas da minha época (a mesma do Mestre Gautama) davam o nome de "desintegração do ego", ou simplesmente desapego. Não se trata de abandonar, mas de não fazer diferença aquilo que se tem, seja físico, mental, emocional ou o que for: tudo que podemos ter ou viver não é nada além de transitoriedades do ponto de vista de algo imperecível, incognoscível e mais ou menos completo, que Pitágoras chamava por "Mônada".

Ou a tal luz, crista ou coisa preciosa que destruímos ao "crescer".

Na verdade, por ser imaterial, é indestrutível. Mas por se ligar à nossa vida material, apresenta algum tipo de elo ou interface que possui fortes raízes materiais (psicológicas)... que podem quebrar. Será que dá pra consertar?

Coisas ai para pensar.