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Thursday, August 31, 2023

Reencarnar é começar de novo

Reencarnar é recomeçar.

Aqueles que obram o Bem, sempre terão uma nova chance de reencarnarem, em condições cada vez mais favoráveis ao seu progresso em direção à Perfeição.

Aqueles que têm a real chance de reencarnação (ou seja, uma vida futura melhor que a atual), jamais temerão a morte, pois sabem que ora ou outra ela virá: e seremos obrigados a recomeçar. Possivelmente numa nova família, num outro lugar e numa época diferente. Mas obrar o Bem é semear sementes de árvores frondosas multimilenares, que brotam rápido e duram por milhares de anos.

Isto é, ao renascer, encontrarão em sua constituição todas as virtudes necessárias para edificar uma nova vida e dar continuidade ao que se passou na anterior. Mas isso não significa dizer que teremos alguma noção do que fomos ou deixamos de fazer; das pessoas que gostamos, que odiamos; das grandes ou pequenas obras que realizamos.

Tudo quanto vivemos contribuirá para uma mudança na forma de ver, ouvir, pensar e sentir. Se uma vida próspera, alicerçada no Bem chegou ao fim, podemos dizer que aquele que morreu era muito mais delicado, inteligente, capaz, sensível etc. do que aquele que ele era ao deixar de ser adolescente, aos 28-42 anos de idade. Ainda que tenha morrido em virtude de demências complicadas, saúde degradada, doenças incapacitantes, o seu último momento de lucidez (por assim dizer) ou de saúde coincidiu com o ponto mais alto de sensibilidade, inteligência etc. Ou seja, saiu dessa vida muito melhor do que nela chegou.

Uma pessoa que, por exemplo, aprende a cozinhar e degustar vinhos, dificilmente sentirá o sabor dos alimentos como aqueles que nunca se deram a esse trabalho de desenvolvimento dos sentidos, Talvez, numa encarnação futura, essa pessoa sofisticada não lembre quantos bolos precisou queimar até aprender como fazer um perfeitamente, mas terá alguma facilidade, se comparada às outras crianças, no manejo das cores, texturas, cheiros... talvez seja uma criança de paladar mais aguçado, difícil de agradar. Quem sabe se torne um adulto atento aos detalhes das coisas e das pessoas, motivando até mesmo sua escolha profissional.

E dessas escolhas, na vida futura, poderíamos, se tivéssemos como acompanhar tal pessoa hipotética ao longo de muitas encarnações, observar que não apenas houve um aumento da sensibilidade, como principalmente foi observada uma mudança em sensibilidade. Isso significa dizer que se por um lado, experiências magníficas ajudam a aumentar e sofisticar a sensibilidade, por outro, experiências desvantajosas podem recrudescer sentidos já bastante desenvolvidos.

Daí a grande importância de observar às próprias atitudes e sempre se perguntar "é isso mesmo? Estou no caminho certo?"

Obrar o Bem.

O que significa dizer isso?

Não existe Bem que não seja coletivo; não existe Deus possível fora da coletividade. Deus é obrigatoriamente um coletivo, é plural e diverso dentro da sua tônica.

Logo, aqueles que obram o Bem são os que se dedicam a ajudar os outros, sem receber nada em troca, até mesmo rechaçando vantagens de quaisquer natureza que advenham da sua generosidade.

Obrar o Bem é ajudar ao próximo, o que pode ser levado a efeito através de diferentes caminhos; "ajudar o próximo", na verdade, significa "ajudar aos próximos". Tanto no sentido de dar apoio aos que estão dentro do nosso raio de ação, quanto deixar um legado de bondade que possa ser utilizado pelos que virão, ou seja, pelos próximos.

Uma pessoa que ajuda a sua família a se manter unida está ajudando aos próximos (de si, seus parentes, o mesmo valendo para quaisquer grupos humanos e sociedades),

Alguém que escreve um livro, ou edita um blog estranho como este, está ajudando aos próximos (ou seja, aqueles que eu não conheço, não conhecerei, que tomarão conhecimento a meu respeito talvez séculos depois de minha morte, mas ainda assim sentir-se-ão agradecidos pelo que escrevo).

Ajo como alguém que finca uma placa numa praia de correntezas perigosas, alertando aos que virão depois de mim para que tomem bastante cuidado ao se banharem naquelas águas.

Mas em muitas outras situações dedico meu tempo e recursos em prol de pessoas às quais não são minha responsabilidade cuidar. Não tenho dinheiro e nem emprego, logo, minha forma de ajudar não é material, mas mental - instruindo, explicando, dando aulas gratuitas, ouvindo, aconselhando, orientando, fazendo companhia. São boas formas de se obrar o Bem, sem precisar gastar nem um centavo sequer.

E o que dizer daqueles que não obram o Bem, ou seja, agem somente a favor de seu incremento patrimonial?

Não há muito o que dizer: cada caso é diferente, mas em linhas gerais, sem obrar o Bem é difícil assegurar que a vida futura será tão boa quanto a atual. Dizer mais que isso acerca deste caso seria, no mínimo, leviano.

E o que dizer dos médicos, por exemplo, que obram o Bem e são remunerados para tal? Eles não obram o Bem.

Sua profissão é cuidar das pessoas e garantir que tenham uma vida saudável. Qualquer atitude em contrariedade a tal normativa constitui grave desvio de função. Logo, por mais esofrçado que seja, o médico jamais poderá ser considerado nobre por ter agido em conformidade com o que é esperado de sua profissão.

Também não pode ser considerado virtuoso o advogado que conseguiu que a justiça fosse feita, pois zelar pela justiça e adequado ordenamento legal é um sinônimo da advocacia, em suas diferentes gradações e nuances. E de forma alguma pode sr tido como intuivo aquele que exerce a psicologia, pois é esperado que o faça continuamente, no exercício de suas funções.

Mas e se o médico resolver atender gratuitamente algumas pessoas, simplesmente para que elas fiquem bem, não recebendo nenhum vantagem, indenização ou auxílio moral, financeiro ou de propaganda?

Neste caso pode-se dizer que tal profissional obrou o Bem, ao ajudar desapegadamente aqueles que precisavm de ajuda, O mesmo valendo para todos os profissionais.

A profissão pode ser uma maldição infernal, quando seu objetivo é somente enriquecer aquele que a exerce; trazendo a cada conquista fictícia de novo cargo ou remnuneração, todo um exército de inimigos fantasmas, ávidos por tomarem aquilo que acredita ter conquistado. Por outro lado, o trabalho e os dons podem ser uma torrente de águas espirituais e de júbilo, para aqueles que dela se valem no intuito de ajudar aos próximos.

Para ajudar, não é preciso muito. Eu mesmo, com o celular em mãos conseguiria escrever um texto que ajudaria alguém; poderia simplesmente responder as perguntas que as pessoas ficam fazewndo nas redes sociais, de modo a ajudá-las. Não é preciso ser rico e nem dispor dos seus recursos para obrar o Bem. Basta querer fazer o Bem, sem olhar a quem, como acertadamente diz o dito popular..

Uma pergunta que pode ser feita, para encerrar essa conversa altamente informal é o seguinte: "o que pessoas egoístas e de caráter malformdo podem esperar de suas encarnações futuras?"

Eperem pelo pior e se conseguirem isso, agradeçam.

Em nossa cultura, excessivamente personalista e materialista formamos uma noção equivocada acerca do karma e da reencarnação. Uma pessoa de índole questionável e evidente má formação de caráter, por exemplo, abandonará aqueles que a ajudaram, ou aqueles que dela precisam, ou aqueles que dela gostam, mas estão em apuros e ela poderia ajudar.

Esse tipo de criatura inventará as mais mirabolantes justificativas para agir de form egoísta e materialista, abandonando aqueles que - por karma - deveria ajudar e se manter disponível.

É o caso de um casal em que um dos cônjuges adoece gravemente e outra o abandona, ao invés de seguir com ele até o final, seja alegre ou triste. As pessoas tendem a acreditar que se tal mau caráter sofre reveses em sua vida presente ou futura, isso se deu em virtude do tratamento despendido a quem dela gostava (o outro cônjuge, por exemplo). É uma visão equivocada dos fatos.

O que efetivamente arruinará vidas e empreendimentos futuros não será a atitude, mas o caráter mal formado que engendrou tais atitudes, além de uma infinidade de outras que a pessoa nem se dá conta. 

É difícil dizer o que cada um será em sua encarnação futura, mas é certo que alguém que semeia a disórdia, ganância, maldade, violência e tudo quanto possa destruir a sociedade, ou segregar as pessoas, certamente colherá frutos similares às suas ações: talvez viva em constante combate, discórdia, mentiras, traições... e se for o caso deveria agradecer, pois o risco de nem conseguir reencarnar é expressivo.

Por outro lado, aqueles que tomam para si o alegado mantra do Pequeno Príncipe "tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas" (tal frase não existe o livro original), podem esperar o melhor.

É difícil dizer o que cada um traz de bom ou ruim em sua atual encarnação, a ponto de ser fácil apontar o que está por vir. Mas é um fato que quem semeia vento, colhe tempestade e no caso, quem obra Bondade, através de ações, reações e pensamentos que façam a humanidade mais coesa e delicada, que auxilie aos próximos, que se doe, mesmo que sejam em tempo, a causas nobres que envolvam a recuperação ou aprimoramento gratuito de outras pessoas, estará muito melhor posicionado em uma encarnação futura do que e nada disso tivesse realizado.

Para fechar, vou deixar uma imagem muito bonita de um dos meus filmes favoritos, chamado "A História Sem Fim". É o trecho em que Bastian conversa com a imperatriz, após lhe dar um nome (Moonchild). Bastian é a densa personalidade, aquele que acreditamos ser e fazemos com que os outros acreditarem sermos. Atreyu é a alma, o emocional, a mente.. arguto, mas dependente.

O chanceler é o "supereu" da psicanálise, ou o chamado "eu interno"nos escritos do prof.Vidal. 

A imperatriz é a própria mônada, encastelada dentro do corpo causal (o palácio). Ao receber um nome, a partir daquele que é o ser material (Bastian), ocorre a eucaristia: a mônada passa a ser numerada, nomeada, ou seja, une-se àquele que por mérito extraordinário na senda espiritual fez-se digno da presença e da conjunção ou mixagem total ou parcial à própria mônada.

E o que ela segura, dizendo ser "tudo que restou do meu vasto imperio' nada mais é que o resultado de uma encarnação - um algo em potencial, que em si mesmo não é nada, mas é capaz de fazer surgir todo um universo ao redor. Legal, né?

Coisas para pensar.