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Sunday, December 20, 2009

Uma Valiosa Estória Oriental

Agora, como prometido no post anterior, segue uma valiosa estória:


Um príncipe marchou com seus generais e soldados para apoderar-se do tesouro do Sr. Chung, que já estava velho e cansado. Depois de grande luta o príncipe entrou vitorioso na cidade. Chegando ao Palácio das Peônias, só encontrou cinzas.aí andou a avenida dos Nove Antepassados Ilustres, onde estava guardado o tesouro do Sr. Shung na Torre da Chama. E, igualmente, o princípe só encontrou destruição. Uma bola de fogo de suas catapultas havia incendiado a biblioteca das Dez Mil Línguas. Outra destruíra o Templo das Belezas Soberanas e a enorme coleção das Sete Artes. Nada restava do tesouro do Sr. Shung, a não ser uma lápide de pedra com a seguinte gravação:


     "Há quatro tesouros valiosos: Uma mulher bela, um filho valente, um bom livro; são os três primeiros, e o quarto é a recordação desses três."

    O princípe inclinou-se para a Estrela do Norte e enviou-lhe seu pensamento: Ó Céu Soberano, Imperador Celestial, perdoa a iniquidade humana, pois destruí o conhecimento.

     Então, o Imperador Amarelo, que mostrava na Estrela do Norte, enviou ao príncipe um espírito em forma de velho monge, que lhe disse:

     -Ó poderoso príncipe, eis aqui o que viestes conquistar - e apresentou-lhe 4 pedaços de porcelana quebrada - este é o tesouro pelo qual mataste tantas pessoas.

     Aí o príncipe golpeou seu peito e lastimou-se:

     -Que grande mal eu fiz! Foi uma grande maldade ter matado tanta gente, mas pior foi ter matado o conhecimento: matei muitos livros, assassinei a beleza do templo; desonrei-me ante o Céu, humilhar-me-ei ante a Terra. Nem sequer a morte pode corrigir esse erro.

     O ancião gargalhou secamente:

     -Ó ilustre príncipe, como és vaidoso! Como podes crer que pudeste matar a beleza? Como pode o homem destruir o que não pode criar? A beleza, príncipe, é um espírito, e dez mil soldados e generais não podem matar um espírito.

     -Não brinque comigo, sou um homem arruinado e devo pagar uma oferenda às vozes dos livros que silenciei para sempre.

     Disse o emissário do Imperador Amarelo:

     Já que você se julga tão grande que teme seus próprios atos, ouça essa estória: 

No início dos tempos os homens que amavam a beleza quiseram criar imagens dela, a seu modo. Algumas imagens eram rudes, mas tinham beleza secreta para quem as criava. Assim, os homens escreveram em montanhas, pintaram em rochas e cantaram para o ar. E os gênios que viviam nesses lugares compreenderam. Passaram-se anos, nasceram poetas, eruditos, músicos, etc. Pergunto-lhe, príncipe, de onde vem o pensamento do erudito quando o transmite, de onde o artista tira sua inspiração? Isso vem do vazio? Os primeiros sonhadores jamais morreram. A esperança traçada no primeiro verso tosco é a mesma do grande artista ou erudito. Com os séculos as guerras e a decadência destruíram os tesouros da terra, mas não corromperam a beleza e o espírito. Houve um dia em que um simples oleiro fez um pratinho de barro e quando terminou estava feliz porque havia dado forma à beleza. Um dia o pratinho quebrou-se, mas o espírito não morreu. Converteu-se num espírito. Cem anos depois outro oleiro fez o mesmo prato; ele não sabia, mas era o mesmo prato de cem anos atrás que renascia. E como o homem consegue um corpo melhor a cada renascimento da mesma maneira esse prato que renascia teve acescentada uma pequena asa e tinha uma linha mais graciosa. O pratinho viveu uns vinte anos e um dia também se quebrou e outra vez converteu-se em espírito. Novamente  o pratinho esperou cem anos antes que outro oleiro o fizesse. Desta vez, acrescentaram-lhe um desenho, mas, todavia, era o mesmo espírito, a mesma beleza, o mesmo prato. 

Pois todos os pratos, como todas as canções, os poemas, os bons conselhos, são imortais. Por isso, cada vez que o prato se quebrava, esperava no ar até que outro oleiro o imaginasse e o realizasse. E depois de dez vezes renascido e aperfeiçoado, o mesmo pratinho foi levado à casa do Sr.Chung. Só que agora era de delicadíssima porcelana com desenhos de flores de ouro e tão frágil que parecia o próprio espírito. E na casa do Sr.Shung, rompeu-se outra vez, pelas tuas mãos, príncipe, e são esses quatro pedaços de porcelana que estão aqui.

     O ancião atirou os cacos aos pés do príncipe:

     -Tu pensas, ó ignorante, que porque estes pedaços foram destruídos, destruíste a Beleza. Achas que tens o poder de matar o espírito de um pratinho de barro? Amanhã virá outro sonhador. O pratinho viverá novamente. E continuará vivendo até o fim, quando todos os homens converterem-se em espíritos e sentarem-se juntos no banquete do Imperador Amarelo. E lá também estarão chícaras espirituais para que os mandarins possam beber o seu chá. Assim sucede com todas as obras realizadas pelos homens.

Não te lamentes pelos livros que incendiaste, pois serão novamente escritos. Não te lamentes pelos poemas que perdeste ou pelas canções que silenciaste, pois seguirão cantando por toda a eternidade. Sonhamos o que destruímos só para descobrir que nada se perde. Com uma bola de fogo incendiaste a Biblioteca das Dez Mil Línguas, mas nem uma delas foi silenciada, ó príncipe. Desde o príncipio do mundo que os homens quiseram silenciar as línguas, mas as palavras do 1º homem serão de novo pronunciadas pelo último homem. O conhecimento não morre com os livros, mas os homens morreriam sem o conhecimento. Por isso sempre os livros serão escritos, e embora não se saiba, será sempre o mesmo livro. 

Quando pensamos que uma idéia é nossa, mais do que nunca ela não é nossa. Os homens podem morrer pelas suas idéias, pois os homens são mortais, mas as idéias jamais morrem pelas mãos dos homens, porque as idéias são imortais. Por isso, príncipe, contenta-te em aprender esta lição. Os homens têm sonhos de beleza e protegem-nos porque pensam que são frágeis. Uma simples rima de um poeta é mais forte que todas as cordas grossas do mundo, que um dia atarão juntos todos os homens. Uma débil linha pintada num tecido de seda é mais forte que todas as montanhas, mais antiga que os céus, mais duradoura que o tempo. A beleza não precisa ser protegida por ser frágil, mas a ela deve ser rendida homenagem porque é Divina. Ó príncipe, busca a beleza não nas cinzas do tesouro, mas nas ruínas do teu próprio coração, criadas pela tua ambição. É melhor ser servo da beleza que governante dos homens.

     O príncipe dirigiu-se com resolução para os seus generais e disse-lhes firmemente:

     -Voltarei para o meu reino, passarei meus bens ao meu filho e vestirei o manto amarelo. Os dias que me restarem serão consagrados à leitura dos Sutras para preparar-me para um renascimento mais nobre e pegarei uma roda de um oleiro e rezarei para ter a habilidade de criar um novo corpo para o espírito de um prato quebrado.


IN: RIBEIRO, Anna M.C.; Conhecimento da Astrologia, 10a. edição, Ed.Hipocampo


O Ato Médico e a fragmentação do Pensamento Científico



Esses dias tenho recebido um monte de emails contrários ao Ato Médico e ocorreu-me comentar aqui a respeito. A medicina, autoproclamada uma das primeiras ciências tal qual concebemos o termo, talvez seja o campo de conhecimentos onde mais a idéia clássica de compartimentação do conhecimento aplica-se. O cientista positivo, afim de estudar um fenômeno, parte de duas premissas: 1-elabora um recorte do "todo" que contenha o que pretende-se avaliar, em termos de causa e consequência; e 2-compara-o a uma situação ideal, que obviamente não encontram amparo na realidade, existindo apenas dentro da sua cabeça. O físico ilusionista que compara a Terra a uma esfera perfeita está muito mais longe da realidade sobre o planeta que o poeta que descreve a superfície terrestre em termos de montanhas e oceanos, porque a Terra é mais um amontoado de montanhas e vales que uma esfera perfeita.

Tudo bem, até este ponto está fácil. Vamos complicar um pouco o raciocínio.

Quando o químico deseja saber se a reação de potássio com hidrogênio dá algum resultado, ele não toma os elementos ao acaso. Procura uma boa fonte de potássio e outra de hidrogênio e destes retira-lhes o que pretende utilizar, isto é, faz um recorte. A natureza não oferece "hidrogênio", "enxofre", "cobre" etc como pretende a tabela periódica, a não ser -acredita-se- em estrelas longínquas... aqui, onde existimos e nossos símbolos estão estabelecidos, a natureza oferece pedras, gases, líquidos etc, cada qual possuindo uma história diferente. A simples idéia de que água é formada por oxigênio e hidrogênio já é um recorte, ou uma compartimentação do conhecimento! Porque "água é água" e não duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio, ou alguém pede na padaria : 'veja-me por favor um becker com duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio com 300ml solução a 15 graus celsius de temperatura e 1 atmosfera de pressão'.

Ainda está simples, mas é o suficiente para o que pretendo expor aqui.

O cientista positivo representa a natureza tal qual a concebe. E novamente, movidos por forças essencialmente políticas, impõem a sua versão da realidade sobre as demais. Na remota antiguidade existiam sobre a Terra os Reis Divinos, que eram verdadeiramente Reis Divinos. Eles não se impunham, porque tinham em mãos a Verdade. Não emitiam opiniões, exibiam a Verdade sobre as coisas e portanto seus pareceres eram Soberanos. Com o declínio de tão Excelsa Sinarquia por volta da decadência da antiga Atlântida (coisa de um milhão de anos atrás), essa tradição manteve-se, porém ao invés de divinos, temos medíocres infelizes que se acham algo a mais do que realmente são, sendo verdadeiramente muito menos do que todos os demais pensam a seu respeito, inclusive os mais pessimistas.

O cientista positivo, ao tentar emular tal forma de ser, porém sem realmente ser divino, força a aceitação incondicional de suas teorias, tendo como forma de convencimento a natureza física das coisas, assim como seus resultados. Dirão "curamos a disenteria, logo, nossa teoria é perfeita". E a partir dessa idéia outras teorias vão sendo forçadas, e principalmente, outros pontos de vista vão sendo excluídos, por mais sentido que façam. No século XIX um famoso escritor, chamado Julio Verne, arrancava gargalhadas de seus contemporâneos, que consideravam-no um grande comediante, ao falar sobre viagens à lua em foguetes, submarinos nucleares e coisas parecidas. O que tais infelizes não sabiam é que posteriormente gênios capazes de apenas com a inicial de seu nome fazer de sua linhagem algo insignificante nasceram, tal qual Wernher Von Braum, principal responsável pela engenharia do projeto Apolo. E que declaradamente tinha como livro de cabeceira ... "Viagem À Lua", de Júlio Verne. Poderia concluir este texto aqui, mas irei além, para que eu fique bem claro.

Sobre este interim, publicarei em seguida um texto muito bonito, que achei num livro de Astrologia e que explica exatamente por que aconteceu tal coisa a Wernher Von Braum.

Voltemos à ciência médica, pródiga no tratamento de cadáveres -ou corpos em estado de transe anestésico, que ficam parecidos com cadáveres. Sendo tal arte estandarte do método científico, nada mais correto que subdividir-se em verdadeiras facções, pretensamente unidas numa mesma causa. Temos, assim, a neurologia, cardiologia, dermatologia e assim por diante. Mas como é o humano? O humano é um só.

O corpo humano não oferece nenhuma emenda sequer! Não existe um parafuso, uma colagem, não possui nada disso, o ser humano é um só! O engenheiro constrói seus navios parafusando placas e vigas umas nas outras, logo, pode-se desparafusá-las também. E o humano? Não. O ser humano forma-se de um todo (o zigoto), que vai diferenciando-se até formar todo o corpo, isto é, o humano é formado por apenas uma realidade, o que está patente em seu DNA, essencialmente o mesmo em todas as células. Na sua forma primitiva, o humano busca pares e grupos, sendo desviante aquele que sente-se melhor sozinho. E somente isto já é o suficiente para a fundação de uma nova medicina, que ouso dizer, bem mais poderosa que a atual.

Com o passar do tempo, e a idéia esquizofreniforme que o humano é consituído por partes diferentes que se comunicam -o que contraria a teoria do DNA, que diz que essencialmente todas as células são idênticas-, novas áreas de conhecimento foram emergindo, seguindo a filosofia proposta, de fragmentação e idealização do todo. Cada qual buscou, a seu turno, os subsídios teóricos e filosóficos mais convenientes, sendo sistematicamente combatidas pelos demais. Assim surgiram a psicanálise, a enfermagem, a terapia ocupacional, fisioterapia etc.


Novas metodologias foram criadas, dentro deste panorama inclusivo que a ciência médica,  quase exclusivamente devido à vaidade de seus mantenedores, renegou a segundo plano. Mais tarde, a adoção orbital de outras áreas de conhecimento como a psicologia, pedagogia, sociologia, antropologia  etc formaram o conjunto de conhecimentos e práticas que são empregadas na área da saúde. E as especialidades médicas, seguindo bem o seu fundamento, seguiram cada uma um caminho diferente, tornando-se verdadeiras "medicinas dentro da medicina".

E em dado ponto... pareceu necessária a delimitação clara do que é medicina do que não é. Ironicamente é a mãe que não consegue dizer quem são seus filhos; ou pior, quem ela é. Em psicanálise temos um clássico exemplo da psicanálise à la Freud - neurologista; a psicanálise à la Lacan - psiquiatra; ou mesmo à la Jung/Zurique - psiquiatra/antropólogo.  O Ato Médico, desta forma, em meu entender, não representa apenas a imposição de poder, forçando os demais profissionais da saúde a meros coadjuvantes -o que está bastante óbvio-: é uma luta contra a fragmentação.

Não temo em dizer que tal batalha está perdida e que é questão de tempo a nau-capitânia da ciência positiva virar um monte de pedaços de madeira flutuando no oceano, cada qual com a sua bandeirinha. Ao conceber a natureza fragmentada e idealizada, o cientista positivo chegou rapidamente a resultados bons, mas como existe dentro de um recorte, colocou um fim a priori em seu agir. Agora chegamos ao limite e segundo as regras deste jogo, é o fim da linha. Porém, questões continuam surgindo e para sua resposta (por exemplo, a depressão), é obrigatória a avaliação multi-axial.

Um dos livros que eu mais gostei de ler foi "O Príncipe" - Nicolau Maquiavel, 1512. E lá encontra-se, bem claro o seguinte: "se quiser unir todos os povos inimigos num mesmo exército, basta criar um inimigo comum a todos". O príncipe vitorioso deve ser habilidoso em manter inimigos e aliados; todo posicionamento radical é certeza de ruína e parece ser isto que o Ato Médico está propondo, visto a união nunca antes observada entre profissionais de áreas tão diferentes, como a nutrição e a psicologia, por exemplo. Provavelmente com o passar do tempo surgirão congressos de fisioterapia e nutrição; ou psicologia e educação física etc. Mais tarde, tais áreas desaparecerão para integrarem-se em coisas mais elaboradas, a exemplo das Neurociências, que congregam desde neurologistas, psicólogos, biólogos até mesmo engenheiros, fislósofos etc. E há projetos, concretos, de surgimento de cursos superiores de Neurociências.

Afinal, nem todos os males vêm para mal.

Monday, December 14, 2009

Um Paradoxo chamado Psicologia.




Esses dias, durante uma viagem que fiz a uma cidade do interior de MG, sempre de ônibus, tive a companhia de uma moça simpática à beça que conversou comigo durante boa parte do trajeto. E a cada 3 frases, em média, sempre há um bordão ao qual as pessoas da Psicologia já estão muito familiarizadas: "mas você que é psicólogo, que entende melhor". Após a alegre conversa, fiquei pensando-talvez motivado pelo Seminário 3 (Lacan) que eu estava lendo no caminho-: curioso o quanto de poder as pessoas dão ao psicólogo, mas a baixa autoridade que ele representa. E vim aqui dividir esta idéia que me ocorreu.

Desde que entrei no curso de psicologia tem sido assim, um crescente de poderes atribuídos a mim, mas sem nenhuma autoridade. Dizem "você que é psicólogo que sabe como a gente pensa", mas se eu disser "ok, faça isso"... quem disse que farão? Isto é um paradoxo. Somos investidos pelo leigo de um poder praticamente sobrenatural, já sabendo, segundo acredita o popular, de antemão, os "por quês" das suas ações e pensamentos, além das motivações de terceiros. Mas se tentamos fazer valer alguma autoridade, já que temos o poder... muitas risadas (como diriam os psicanalistas, resistência).

Fiquei pensando e torço para que alguém converse comigo a respeito (por isso pode-se comentar à vontade neste blog), que às vezes é a dinâmica da mente humana, paradoxal. E ao encontrar alguém que em sua crença representa o mundo anímico, seja o das inomináveis emoções, ou das inexplicáveis razões-de-ser, reproduzem tal forma paradoxal de ser. Repetindo a opinião psicanalítica, nada de novo nessa constatação, já que um dos fundamentos da transferência é justamente este; contudo, permitam-me ir além.

Um dos meus autores favoritos, Eliphas Levy, escreveu um verdadeiro tratado sobre os Paradoxos da Sabedoria Oculta, leitura que considero importantíssima a todos os interessados no tema (encontra-se facilmente em PDF via google, chama-se Os Paradoxos da Sabedoria Oculta). Nessa obra, discorre tranquilamente sobre a forma paradoxal como o Conhecimento Ocultista está estabelecido, por sua vez, reproduzindo a disposição paradoxal das Leis Universais, como num simples exemplo: temos a tendência ao repouso absoluto (daí os corpos perderem calor); mas onde caberia um Big Bang neste cenário?

A idéia do humano enquanto reprodução do Todo não é, igualmente, também nova. A idéia pitagórica de Mônada, em sua encarnação védica como Agni, ou a princesa mítica dos contos-de-fadas, quer dizer mais ou menos exatamente isto. A essência humana existe em reprodução à Essência Universal, que os religiosos chamam de Deus. Assim, uma ciência do paradoxo é uma ciência total, enquanto a ciência positiva que conhecemos, fundamentada num recorte da realidade, é obrigatoriamente uma ciência parcial, ou seja, limitada. A ciência positiva, ao buscar eliminar o paradoxo, criando uma relação "coerente" entre causa e efeito, acaba por trair a si mesma, tal qual um Édipo arrependido, cegando seus próprios olhos à realidade que se lhe apresenta tal como é.

O cientista positivo, que busca eliminar o paradoxo, ao invés de explorá-lo, apaga de seu quadro as respostas para as perguntas que continuamente faz, sendo obrigado a respondê-las no plano da fantasia. Tal infelicidade obriga-o a passar do plano científico para o da baixa politicagem, afim de que sua fantasia prevaleça sobre as fantasias dos demais. Assim vemos a todo momento teorias subirem e caírem, sempre muito bem amparadas por mecanismos políticos bastante sólidos, como as leis, que visam o bem estar do Estado e não do indivíduo. Há quem diga que a realidade é incontestável, mas às vésperas do Natal respondo da seguinte forma: os contemporâneos de Jesus não estavam absolutamente certos, em sua crença, ao apedrejarem a mulher adúltera? E hoje em dia isso não seria um crime hediondo? Para bom entendedor... meia palavra basta.

A própria psicanálise, que poderia ter sido a primeira ciência paradoxal do ocidente, negou-se a tal, buscando, a seu modo, achar respostas unívocas ao invés das esperadas duais (paradoxais). Sim, como as ciências mais antigas que se tem notícia, a começar pela astrologia, onde o paradoxo não é eliminado, ao contrário, é sobre ele que são feitas as inferências importantes sobre o que deseja-se avaliar. Certamente o que se sabe atualmente sobre astrologia cursa favoravelmente à mediocridade dos escritores de horóscopos. Assim como ao invés de Verdadeiros Profetas como Nostradamus, temos risíveis "videntes" especulando se o campeão do Big Brother Brasil será um homem ou uma mulher; ou gabando-se de terem previsto a queda de aeronaves, após as mesmas terem caído; ou fazendo declarações sobre o novo cd dos Mamonas Assassinas, a ser lançado no plano espiritual, onde, segundo a médium, ainda fazem grande sucesso.

Bom, enquanto as outras ciências vão encontrando seus Muros das Lamentações, assim como a Igreja, por infelicidade e falta de talento dos papas e seus subordinados e não por ausência de virtudes em Jesus e seus Apóstolos (de novo, para bom entendedor...) ainda há para a Psicologia a chance de achar um caminho dual (paradoxal) para si mesma e quem sabe ser a primeira ciência paradoxal a surgir no ocidente, uma vez que a tentativa de Einstein, por mais formidável que tenha sido, foi igualmente frustrada pelos que supostamente poderiam ter continuado seu trabalho. O século XVII foi das Artes, o XVIII da Sociologia/Filosofia, o XIX das engenharias, o XX das ciências biológicas e certamente, o XXI, da psicologia. Apesar de apenas no futuro tais ciências terem evoluído, foram nos séculos apontados que as grandes estruturas de tais conhecimentos foram estabelecidas. E uma sociedade drasticamente paradoxal como a atual... é material suficiente para fazermos as coisas a nosso modo. Nada por acaso, garanto. Ainda dá tempo, mas se não for o caso, tudo bem. Algum outro conhecimento novo em folha surgirá, virá e inaugurará a chamada "Era de Ouro", parafraseando os kalpas da tradição védica. Veremos.



Sunday, December 06, 2009

Duas visões sobre o Amor.


Hoje mais cedo conversava com uma pessoa muito querida (Dani) sobre as diferentes formas como as pessoas pensam o amor. Não é incomum encontrarmos pessoas que digam "eu amo, porque me faz bem". Assim como "eu gosto, porque me traz boas coisas". E assim por diante, ou seja, é uma perspetiva narcísica. A medida do amor é sempre tida como a pessoa que diz amar.

Também é muito comum observarmos tal abordagem do amor entre torcedores de clubes de futebol, onde frases do tipo são frequentes: "gosto de tal time porque temos muitos títulos", sendo a premissa contrária, como uma medida de aversão, ou ódio. Ainda aproveitando minhas recentes leituras psicanalíticas, poderíamos ficar aqui por horas discutindo o significado destas ações, mas não é o caso. Quem ama por interesse não sabe o que é o amor. Ponto final.

De vez em quando vem ao meu encontro torcedores de clubes ditos rivais do meu preferido (Clube Atlético Mineiro), trazendo este argumento "seu time não tem títulos, logo, você é tolo em gostar dele". E como bom atleticano e como pessoa que sei amar, sempre respondo "você obviamente não sabe o que é o amor -por isso me diz tais coisas-e não cabe a mim te ensinar tal lição; quando a aprender, volte e conversaremos sobre o Amor". Uma leitura imbecil das minhas palavras traria a conclusão que só os torcedores do Galo sabem amar; mas como eu costumo dizer, não se trata um cachorro à beijos na boca, mas com osso, coleira e chicote e quem pensa como um cão não encontrará, mesmo, nada de útil por aqui. Ultimamente tenho lido um blog e tenho adorado (Genizah Virtual), parece-me que mantido por cristãos avaliando as boas e sobretudo más condutas de nossos irmãos cristãos. Dificilmente teria um exemplo popular mais evidente do que é o Amor do que aquele trazido por Jesus Cristo e ele não era atleticano como eu, nem botafoguense, nem brasileiro, nem nada a que associamos a palavra Amor.

O novo paradigma, que na verdade é o eterno paradigma do Amor, tão bem demonstrado por Jesus Cristo é que as pessoas e coisas podem (e talvez devam) ser amadas pelo que elas são e não pelo que nos trazem. Jesus via a Divindade em cada ser humano e a reverenciava, tratando com amor todos os seres humanos. No meu entender isto é o certo. Quando um chefe de estado vem visitar o nosso país, é sempre recebido com a reverência apropriada. Quando uma santidade visita seus fiéis, também cabe-lhe a cerimônia apropriada. Mesmo sendo um retrógrado ou idealista, a cerimônia deve ser observada porque ela faz menção ao que a pessoa é e não como ela é.


A questão, desta forma, não diz respeito a formas de amar, mas a formas de se conhecer. A todo momento encontramos reportagens mostrando as mais novas posições sexuais, assim como caros presentes; as formas mais sofisticadas de escravizar afetivamente alguém, sob a alcunha "formas de amar"; e o que dizer das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo e tantos outros temas correlatos? E muito raramente vemos coisas do tipo "conheça  a fundo aquilo ou quem você gosta".

Certa vez um professor disse "a gente sabe quem somos a partir do que escolhemos". E assim voltamos à premissa inicial deste texto, onde há aqueles que dirão "gosto porque ME traz boas coisas"/"não gosto porque não ME traz boas coisas", ou seja, a prerrogativa narcísica, que terá na depressão sua consequência, devido à óbvia constatação de que o mundo não é como a gente gosta; ele é como ele é. Ainda no mesmo caminho, buscando fugir da depressão, vemos os hedonistas e outros mais agressivos, mesmo discretamente, que não hesitam em dizer "eu odeio" (lavar louça, por exemplo - uma das maiores comunidades do orkut), guardando para a ocasião máxima do seu narcisismo dizerem "eu te amo"  para "aquela  pessoa especial" após ela ter massageado-lhe o ego convenientemente (no mesmo orkut,  atualmente, as comunidades "eu amo" são maiores que as "eu odeio", contudo há a ressalva narcísica apontada anteriormente).

Há, também os que se dizem corajosos, arriscando suas frágeis vidas em saltos de pára-quedas ou cantadas baratas em boates mal-assombradas. E pergunto: quem tem coragem de dizer a um estranho "eu te amo, nunca vi, mas sempre te amei". Alguém levantou a mão? Legal. Quantos têm coragem de gostar de quem lhes causa dano ou traz problemas? E quantos dos que se abstiveram em levantar a mão nestas duas perguntas alguma vez nas suas vidas já chamaram a outrem de medrosos? Irônico, não? Acredito que toda pessoa tem algo de especial. E antes que me perguntem, já fui crucificado algumas vezes por dizer "eu te amo" a quem não queria ser amada, mas não foi a cruz o preço do amor, segundo nos contam os apóstolos? Então está tudo certo e eu agi bem!

Toda pessoa em algum momento de sua vida foi objeto de amor de alguém. Os piores bandidos algum dia foram amamentados (um dos maiores gestos de amor), ou foram vistos com piedade/esperança por alguém, mesmo que muito rapidamente. Sempre direciono minhas orações favoravelmente a ajudar os abortados artificialmente, ou seja, aqueles que foram objetos do maior ódio possível, que é o de negar a vida a quem por direito a recebeu. Que Deus ilumine as suas almas. Portanto, concordo com Jesus que todas as pessoas são ou foram importantes para alguém e desrespeitá-las é desrespeitar aqueles que gostaram delas, logo, dignas de toda reverência.  Porém, igualmente, compreendo a necessidade da manutenção da ordem social e isso pode significar a construção de manicômios ou penitenciárias, enquanto não achamos uma forma melhor de nos organizarmos. E fica a questão: e a dimensão do amor? Como saber a quem estender o tapete vermelho? E a resposta é muito simples.

Vivemos numa época onde conhecer é praticamente uma transgressão. Nunca houve tanto conhecimento sobre a face da Terra; e nem tantos ignorantes, por opção. Bom, fico por aqui, afinal, como dizem, para bom entendedor, meia palavra basta.



ARI.