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Sunday, December 20, 2009

O Ato Médico e a fragmentação do Pensamento Científico



Esses dias tenho recebido um monte de emails contrários ao Ato Médico e ocorreu-me comentar aqui a respeito. A medicina, autoproclamada uma das primeiras ciências tal qual concebemos o termo, talvez seja o campo de conhecimentos onde mais a idéia clássica de compartimentação do conhecimento aplica-se. O cientista positivo, afim de estudar um fenômeno, parte de duas premissas: 1-elabora um recorte do "todo" que contenha o que pretende-se avaliar, em termos de causa e consequência; e 2-compara-o a uma situação ideal, que obviamente não encontram amparo na realidade, existindo apenas dentro da sua cabeça. O físico ilusionista que compara a Terra a uma esfera perfeita está muito mais longe da realidade sobre o planeta que o poeta que descreve a superfície terrestre em termos de montanhas e oceanos, porque a Terra é mais um amontoado de montanhas e vales que uma esfera perfeita.

Tudo bem, até este ponto está fácil. Vamos complicar um pouco o raciocínio.

Quando o químico deseja saber se a reação de potássio com hidrogênio dá algum resultado, ele não toma os elementos ao acaso. Procura uma boa fonte de potássio e outra de hidrogênio e destes retira-lhes o que pretende utilizar, isto é, faz um recorte. A natureza não oferece "hidrogênio", "enxofre", "cobre" etc como pretende a tabela periódica, a não ser -acredita-se- em estrelas longínquas... aqui, onde existimos e nossos símbolos estão estabelecidos, a natureza oferece pedras, gases, líquidos etc, cada qual possuindo uma história diferente. A simples idéia de que água é formada por oxigênio e hidrogênio já é um recorte, ou uma compartimentação do conhecimento! Porque "água é água" e não duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio, ou alguém pede na padaria : 'veja-me por favor um becker com duas partes de hidrogênio para uma de oxigênio com 300ml solução a 15 graus celsius de temperatura e 1 atmosfera de pressão'.

Ainda está simples, mas é o suficiente para o que pretendo expor aqui.

O cientista positivo representa a natureza tal qual a concebe. E novamente, movidos por forças essencialmente políticas, impõem a sua versão da realidade sobre as demais. Na remota antiguidade existiam sobre a Terra os Reis Divinos, que eram verdadeiramente Reis Divinos. Eles não se impunham, porque tinham em mãos a Verdade. Não emitiam opiniões, exibiam a Verdade sobre as coisas e portanto seus pareceres eram Soberanos. Com o declínio de tão Excelsa Sinarquia por volta da decadência da antiga Atlântida (coisa de um milhão de anos atrás), essa tradição manteve-se, porém ao invés de divinos, temos medíocres infelizes que se acham algo a mais do que realmente são, sendo verdadeiramente muito menos do que todos os demais pensam a seu respeito, inclusive os mais pessimistas.

O cientista positivo, ao tentar emular tal forma de ser, porém sem realmente ser divino, força a aceitação incondicional de suas teorias, tendo como forma de convencimento a natureza física das coisas, assim como seus resultados. Dirão "curamos a disenteria, logo, nossa teoria é perfeita". E a partir dessa idéia outras teorias vão sendo forçadas, e principalmente, outros pontos de vista vão sendo excluídos, por mais sentido que façam. No século XIX um famoso escritor, chamado Julio Verne, arrancava gargalhadas de seus contemporâneos, que consideravam-no um grande comediante, ao falar sobre viagens à lua em foguetes, submarinos nucleares e coisas parecidas. O que tais infelizes não sabiam é que posteriormente gênios capazes de apenas com a inicial de seu nome fazer de sua linhagem algo insignificante nasceram, tal qual Wernher Von Braum, principal responsável pela engenharia do projeto Apolo. E que declaradamente tinha como livro de cabeceira ... "Viagem À Lua", de Júlio Verne. Poderia concluir este texto aqui, mas irei além, para que eu fique bem claro.

Sobre este interim, publicarei em seguida um texto muito bonito, que achei num livro de Astrologia e que explica exatamente por que aconteceu tal coisa a Wernher Von Braum.

Voltemos à ciência médica, pródiga no tratamento de cadáveres -ou corpos em estado de transe anestésico, que ficam parecidos com cadáveres. Sendo tal arte estandarte do método científico, nada mais correto que subdividir-se em verdadeiras facções, pretensamente unidas numa mesma causa. Temos, assim, a neurologia, cardiologia, dermatologia e assim por diante. Mas como é o humano? O humano é um só.

O corpo humano não oferece nenhuma emenda sequer! Não existe um parafuso, uma colagem, não possui nada disso, o ser humano é um só! O engenheiro constrói seus navios parafusando placas e vigas umas nas outras, logo, pode-se desparafusá-las também. E o humano? Não. O ser humano forma-se de um todo (o zigoto), que vai diferenciando-se até formar todo o corpo, isto é, o humano é formado por apenas uma realidade, o que está patente em seu DNA, essencialmente o mesmo em todas as células. Na sua forma primitiva, o humano busca pares e grupos, sendo desviante aquele que sente-se melhor sozinho. E somente isto já é o suficiente para a fundação de uma nova medicina, que ouso dizer, bem mais poderosa que a atual.

Com o passar do tempo, e a idéia esquizofreniforme que o humano é consituído por partes diferentes que se comunicam -o que contraria a teoria do DNA, que diz que essencialmente todas as células são idênticas-, novas áreas de conhecimento foram emergindo, seguindo a filosofia proposta, de fragmentação e idealização do todo. Cada qual buscou, a seu turno, os subsídios teóricos e filosóficos mais convenientes, sendo sistematicamente combatidas pelos demais. Assim surgiram a psicanálise, a enfermagem, a terapia ocupacional, fisioterapia etc.


Novas metodologias foram criadas, dentro deste panorama inclusivo que a ciência médica,  quase exclusivamente devido à vaidade de seus mantenedores, renegou a segundo plano. Mais tarde, a adoção orbital de outras áreas de conhecimento como a psicologia, pedagogia, sociologia, antropologia  etc formaram o conjunto de conhecimentos e práticas que são empregadas na área da saúde. E as especialidades médicas, seguindo bem o seu fundamento, seguiram cada uma um caminho diferente, tornando-se verdadeiras "medicinas dentro da medicina".

E em dado ponto... pareceu necessária a delimitação clara do que é medicina do que não é. Ironicamente é a mãe que não consegue dizer quem são seus filhos; ou pior, quem ela é. Em psicanálise temos um clássico exemplo da psicanálise à la Freud - neurologista; a psicanálise à la Lacan - psiquiatra; ou mesmo à la Jung/Zurique - psiquiatra/antropólogo.  O Ato Médico, desta forma, em meu entender, não representa apenas a imposição de poder, forçando os demais profissionais da saúde a meros coadjuvantes -o que está bastante óbvio-: é uma luta contra a fragmentação.

Não temo em dizer que tal batalha está perdida e que é questão de tempo a nau-capitânia da ciência positiva virar um monte de pedaços de madeira flutuando no oceano, cada qual com a sua bandeirinha. Ao conceber a natureza fragmentada e idealizada, o cientista positivo chegou rapidamente a resultados bons, mas como existe dentro de um recorte, colocou um fim a priori em seu agir. Agora chegamos ao limite e segundo as regras deste jogo, é o fim da linha. Porém, questões continuam surgindo e para sua resposta (por exemplo, a depressão), é obrigatória a avaliação multi-axial.

Um dos livros que eu mais gostei de ler foi "O Príncipe" - Nicolau Maquiavel, 1512. E lá encontra-se, bem claro o seguinte: "se quiser unir todos os povos inimigos num mesmo exército, basta criar um inimigo comum a todos". O príncipe vitorioso deve ser habilidoso em manter inimigos e aliados; todo posicionamento radical é certeza de ruína e parece ser isto que o Ato Médico está propondo, visto a união nunca antes observada entre profissionais de áreas tão diferentes, como a nutrição e a psicologia, por exemplo. Provavelmente com o passar do tempo surgirão congressos de fisioterapia e nutrição; ou psicologia e educação física etc. Mais tarde, tais áreas desaparecerão para integrarem-se em coisas mais elaboradas, a exemplo das Neurociências, que congregam desde neurologistas, psicólogos, biólogos até mesmo engenheiros, fislósofos etc. E há projetos, concretos, de surgimento de cursos superiores de Neurociências.

Afinal, nem todos os males vêm para mal.

1 comment:

Patricia said...

Tudo que você escreve fica incrível... Surpreendente. Me fascino cada dia mais, a cada texto.
Sucesso sempre. Patrícia (LaNeC)