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Sunday, December 06, 2009

Duas visões sobre o Amor.


Hoje mais cedo conversava com uma pessoa muito querida (Dani) sobre as diferentes formas como as pessoas pensam o amor. Não é incomum encontrarmos pessoas que digam "eu amo, porque me faz bem". Assim como "eu gosto, porque me traz boas coisas". E assim por diante, ou seja, é uma perspetiva narcísica. A medida do amor é sempre tida como a pessoa que diz amar.

Também é muito comum observarmos tal abordagem do amor entre torcedores de clubes de futebol, onde frases do tipo são frequentes: "gosto de tal time porque temos muitos títulos", sendo a premissa contrária, como uma medida de aversão, ou ódio. Ainda aproveitando minhas recentes leituras psicanalíticas, poderíamos ficar aqui por horas discutindo o significado destas ações, mas não é o caso. Quem ama por interesse não sabe o que é o amor. Ponto final.

De vez em quando vem ao meu encontro torcedores de clubes ditos rivais do meu preferido (Clube Atlético Mineiro), trazendo este argumento "seu time não tem títulos, logo, você é tolo em gostar dele". E como bom atleticano e como pessoa que sei amar, sempre respondo "você obviamente não sabe o que é o amor -por isso me diz tais coisas-e não cabe a mim te ensinar tal lição; quando a aprender, volte e conversaremos sobre o Amor". Uma leitura imbecil das minhas palavras traria a conclusão que só os torcedores do Galo sabem amar; mas como eu costumo dizer, não se trata um cachorro à beijos na boca, mas com osso, coleira e chicote e quem pensa como um cão não encontrará, mesmo, nada de útil por aqui. Ultimamente tenho lido um blog e tenho adorado (Genizah Virtual), parece-me que mantido por cristãos avaliando as boas e sobretudo más condutas de nossos irmãos cristãos. Dificilmente teria um exemplo popular mais evidente do que é o Amor do que aquele trazido por Jesus Cristo e ele não era atleticano como eu, nem botafoguense, nem brasileiro, nem nada a que associamos a palavra Amor.

O novo paradigma, que na verdade é o eterno paradigma do Amor, tão bem demonstrado por Jesus Cristo é que as pessoas e coisas podem (e talvez devam) ser amadas pelo que elas são e não pelo que nos trazem. Jesus via a Divindade em cada ser humano e a reverenciava, tratando com amor todos os seres humanos. No meu entender isto é o certo. Quando um chefe de estado vem visitar o nosso país, é sempre recebido com a reverência apropriada. Quando uma santidade visita seus fiéis, também cabe-lhe a cerimônia apropriada. Mesmo sendo um retrógrado ou idealista, a cerimônia deve ser observada porque ela faz menção ao que a pessoa é e não como ela é.


A questão, desta forma, não diz respeito a formas de amar, mas a formas de se conhecer. A todo momento encontramos reportagens mostrando as mais novas posições sexuais, assim como caros presentes; as formas mais sofisticadas de escravizar afetivamente alguém, sob a alcunha "formas de amar"; e o que dizer das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo e tantos outros temas correlatos? E muito raramente vemos coisas do tipo "conheça  a fundo aquilo ou quem você gosta".

Certa vez um professor disse "a gente sabe quem somos a partir do que escolhemos". E assim voltamos à premissa inicial deste texto, onde há aqueles que dirão "gosto porque ME traz boas coisas"/"não gosto porque não ME traz boas coisas", ou seja, a prerrogativa narcísica, que terá na depressão sua consequência, devido à óbvia constatação de que o mundo não é como a gente gosta; ele é como ele é. Ainda no mesmo caminho, buscando fugir da depressão, vemos os hedonistas e outros mais agressivos, mesmo discretamente, que não hesitam em dizer "eu odeio" (lavar louça, por exemplo - uma das maiores comunidades do orkut), guardando para a ocasião máxima do seu narcisismo dizerem "eu te amo"  para "aquela  pessoa especial" após ela ter massageado-lhe o ego convenientemente (no mesmo orkut,  atualmente, as comunidades "eu amo" são maiores que as "eu odeio", contudo há a ressalva narcísica apontada anteriormente).

Há, também os que se dizem corajosos, arriscando suas frágeis vidas em saltos de pára-quedas ou cantadas baratas em boates mal-assombradas. E pergunto: quem tem coragem de dizer a um estranho "eu te amo, nunca vi, mas sempre te amei". Alguém levantou a mão? Legal. Quantos têm coragem de gostar de quem lhes causa dano ou traz problemas? E quantos dos que se abstiveram em levantar a mão nestas duas perguntas alguma vez nas suas vidas já chamaram a outrem de medrosos? Irônico, não? Acredito que toda pessoa tem algo de especial. E antes que me perguntem, já fui crucificado algumas vezes por dizer "eu te amo" a quem não queria ser amada, mas não foi a cruz o preço do amor, segundo nos contam os apóstolos? Então está tudo certo e eu agi bem!

Toda pessoa em algum momento de sua vida foi objeto de amor de alguém. Os piores bandidos algum dia foram amamentados (um dos maiores gestos de amor), ou foram vistos com piedade/esperança por alguém, mesmo que muito rapidamente. Sempre direciono minhas orações favoravelmente a ajudar os abortados artificialmente, ou seja, aqueles que foram objetos do maior ódio possível, que é o de negar a vida a quem por direito a recebeu. Que Deus ilumine as suas almas. Portanto, concordo com Jesus que todas as pessoas são ou foram importantes para alguém e desrespeitá-las é desrespeitar aqueles que gostaram delas, logo, dignas de toda reverência.  Porém, igualmente, compreendo a necessidade da manutenção da ordem social e isso pode significar a construção de manicômios ou penitenciárias, enquanto não achamos uma forma melhor de nos organizarmos. E fica a questão: e a dimensão do amor? Como saber a quem estender o tapete vermelho? E a resposta é muito simples.

Vivemos numa época onde conhecer é praticamente uma transgressão. Nunca houve tanto conhecimento sobre a face da Terra; e nem tantos ignorantes, por opção. Bom, fico por aqui, afinal, como dizem, para bom entendedor, meia palavra basta.



ARI.

2 comments:

Patrícia (LaNeC) said...

Definir o amor é mesmo difícil, principalmente sem ser narcisista como você colocou. E se definir esse sentimento é tão controverso, mais controverso ainda é tentar quantifica-lo. Quantas vezes ouvimos as perguntas: Qual dos seus filhos você ama mais? Você ama mais seu pai ou sua mãe? E muitos ainda julgam dizendo que amamos mais a quem damos mais atenção, sem saber que, como mãe e como filha, dou maior atenção a quem mais precisa dela e não a quem amo mais ou menos. Não quantifico ou defino o amor, apenas o vivo de várias formas diferentes.

Unknown said...

Olá Ariomester,

Entrei em seu Blogger por acaso, apesar de não acreditar muito em acasos, e lí alguns de seus textos. Gostaria de parabenizá-lo pois estão muito bons. Embora conheça muito pouco a respeito sobre eubiose, me esforcei para entender os textos.
Esse texto, em especial, chamou muito minha atenção pelo fato de ser sobre um assunto em que questiono e reflito há anos.
Concordo com todos seus pontos de vista e argumentos citados. Percebo como muitas pessoas falam sobre o amor utilizando diferentes conceitos, da forma que lhe for mais conveniente, o que demonstra hipocrisia nas relações humanas. Para mim, o conceito de amor é algo que não tenho palavras no momento para explicar, mas acredito que é um sentimento incondicional e não voltado para os interesses pessoais. Acredito que só o amor pode mudar os rumos da sociedade. Dessa forma, as atitudes nos relacionamentos pessoais, sociais e políticos seriam melhor pensadas. Não acho que esse amor incondicioanal seja ideológico e sim uma mudança de postura e comprometimento com a vida. Apesar do pouco conhecimento que tenho a respeito da psicanálise, pois não sou da área, não descarto as questões colocadas por Freud. Mas acredito que na vida adulta ainda podemos mudar algumas posturas, basta querer. Acho que a filosofia poderia contribuir muito, entretanto, como você citou, apesar do enorme conhecimento que possuimos atualmente, há muitos ignorantes.

Parabéns!

Um abraço Eva.