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Friday, December 22, 2023

Ao menos o ano terminou bem (eu acho)


 Ao menos o ano terminou bem. Na minha opinião.

Uma das coisas mais fascinantes é observar o pensamento coletivo e sua relativa autonomia em relação ao pensamento individual. Eu tenho prestado bastante atenção a isso desde que era criança e continua me fascinando.

Tempos atrás, lá nos anos 1990 +/- havia uma verdadeira efervescência de teorias de conspiração, que coincidiram à ampliação e democratização do acesso à informação e propaganda no mundo. Fitas VHS e depois DVDs circulavam livremente antes da internet, que aprofundou essa comunicação entre seres humanos que não se conhecem, mas se consideram semelhantes.

A editoração e impressão de livros e revistas também foi bastante privilegiada na época, fazendo surgir toda uma miríade de autores sem necessariamente precisarem convencer editores a publicá-los: bastava ter como pagar pela impressão e/ou divulgação e o livro ou revista estaria circulando mundo afora.

O acesso civil à internet comercial foi outro grande avanço da época, potencializando e ampliando ainda mais a conectividade e conexão entre as pessoas.

Isso significava, em números escusos, que a pornografia tornar-se-ia, como é até hoje, a indústria dominante na internet. Sendo rivalizada apenas recentemente pela indústria das teorias da conspiração.

Lá atrás, nos anos 1990, pessoas que gostam de conhecer realidades e pensamentos muito divergentes da norma já haviam encontrado na ufologia uma fonte inesgotável de barbaridades intelectuais. Relatos de abduções, contato com ETs, acobertamento de projetos secretos como o Majestic-12, Livro Azul, Operação Prato e outros eram matéria viva de seminários, livros, encontros, palestras.

Programas e filmes formidáveis como Arquivo X, Intruders e Dark Skies aproveitavam do seu alcance para ampliar a força de tais ideias, que pertenciam, ainda assim, ao terreno do ridículo, do absurdo, do exagero ou mesmo charlatanismo.

Havia um limite claro entre ufólogos, trekkers e outros fantasistas/conspiracionistas e o mundo real e isso é saudável dos dois lados.

Por um lado, porque a realidade deve se fundamentar nos fatos e não nas opiniões (Como acontece hoje em dia).

Por outro, porque é a contradição da norma que a faz desenvolver. Karl Marx foi muito feliz ao apontar, no "Capital", que a humanidade é dialética e portanto que existe, ou se desenvolve, naturalmente, a partir do conflito ou embate entre ideias divergentes.

A fantasia está de forma estranha expressa na ufologia, mas de uma forma menos boba na obra de Julio Verne; que teve como seguidor fiel e declarado cientistas como Werner Von Braum, que foi o pai do projeto Apollo, que além de levar algumas pessoas à lua, trouxe uma infinidade de progressos reais, factuais à humanidade, como computadores pessoais, GPS e outros.

Ou seja, é preciso que exista o divergente da norma, mas ele não deve se tornar a norma, sob a pena de nos vermos regidos por opiniões não por fatos concretos, com as devidas soluções concretas.

Pois bem.

Ao redor de 2012 (ano maldito previsto pelos Maias acertadamente) pessoas mal intencionadas ligadas às forças políticas dominantes iniciaram uma agenda cujo objetivo era submeter as populações a um regime único (o norte-americano, que na verdade é sionista, utilzando os EUA como fantoche). 

O receio de a China crescer a ponto de sobrepassar os EUA foi o componente econômico que despertou o alerta na Casa Branca, mas como vemos atualmente, talvez tal preocupação tenha sido utilizada como artífice para promover guerras e genocídios favorpaveis aos sionistas.

Como parte dessa estratégia aparentemente calculada vieram mudanças substanciais na agenda cultural e de costumes mundiais, capitaneada pelos EUA. Por um lado, o fortalecimento de movimentos alinhados aos EUA, ou que formem inimigos dos EUA, justificando guerras, golpes militares e ditaduras mundo afora.

Por outro lado, o convencimento da classe média, ou das populações não-exterminadas fisicamente, via imprensa e indústria do entretenimento, exacerbando o que de mais podre existe nas pessoas: egoísmo, individualismo, violência...

Em determinado momento podemos dizer que houve a morte da imprensa, após patrocinar tantos golpes que vieram se provando inúteis um após o outro. Com isso, o senso de "certo e errado" se perdeu.

Desde eras mitológicas a humanidade se apoia na divina providência para escolher entre o certo e o errado. São os deuses e seus ditames que dizem aquilo que deve ou não ser levado adiante.

No pós guerra, devido à forma como Joseph Goebbels conduziu a propaganda nazista nos anos 1930-45, vimos a substituição gradual da divindade tradicional para a imprensa e a ciência. As pessoas pararam de acreditar nos deuses e se voltaram para os aparelhos de TV e mais recenemtente, redes sociais.

Isso acabou ao redor de 2017-18, como produto inesperado de um estratagema aparentemente bem montado décadas atrás: ao invés de as pessoas se curvarem cegamente aos EUA, todos fomos surpreendidos pelo óbvio: o conspiracionismo havia adentrado o limite do real.

Os sinais de que os sujeitos haviam mudado eram óbvios: a substituição de compromissos por tatuagens. As horas de filmagens em vão - o estranho comportamento de filmar e fotografar mais que olhar e sentir os eventos, pessoas e lugares.

Uma tatuagem é algo que não sai. Já reparou quantas pessoas estão fazendo tatuagens enormes? Ou em outras palavras, o quanto estão marcando a pele em definitivo?

Sempre existiram pessoas que gostavam de se tatuar. Mas o que vemos atualmente foge ao que pode ser considerado normal.

Ao mesmo tempo em que se comprometem com um desenho na pele, cada vez menos se comprometem em termos afetivos, sexuais, laborais, de amizade.

A histeria e a esquizofrenia guardam muitos comportamentos em comum. A dissociação da realidade, vivência do individualismo e materialismo são alguns destes traços.

Estaria a população enlouquecendo? Provavelmente.

Talvez por não encontrarem mais o seu lugar, já que o pensamento coletivo estava lutando contra as imposições da mídia e redes sociais? Possivelmente.

Aos milhões, pessoas acreditavam que por exemplo, o virus Sars-Covid2 era uma invenção da imprensa... e morreram. Ou que o vírus carregava um chip 5G de controle social, dentre diversas barbaridades, chegando ao ridículo de um ex-presidente brasileiro correr atrás de uma ema lhe oferecendo uma caixa de cloroquina, medicação ineficaz à covid.

Tomando proporções muito maiores do que as reuniões de ufólogos dos anos 1990, a histeria foi inevitável, sendo manipulada por pessoas interessadas em lucrar na ignorância e doença dos seus irmãos em humanidade.

Uma forma contemporânea de referir a tal histeria é através da expressão "polarização".

O eterno embate entre identitarismo e conservadorismo. Duas aberrações intelectuais que fazem contos de fadas de ETs modificando o DNA do ser humano através de sondas anais para minerar ouro na terra plana parecer uma sessão solene de entrega do Prêmio Nobel.

Uma coisa é acreditar em abdução alienígena (que não existe) e no máximo ser um estranho fechado numa casa até entender que nada desse tipo acontecerá.

Outra coisa é acreditar que por alguém ter votado no presidente Lula ou no ex presidente Bolsonaro já significa dizer estar entrincheirado diante de um inimigo fortemente armado, lutando por sua vida no campo de batalha. Não é o caso.

Mas quando a fantasia toma tais proporções, as pessoas não apenas se evitam, como se matam preventivamente, tanto moral quanto fisicamente. Tal histeria destruiu uma quantidade considerável de famílias, empresas, grupos de pessoas afins e outros.

Ao invés de ser atenuada, o atual governo (Lula) continua a incitar ódio e o discurso do "nós contra eles". Ainda que tenha lançado uma tímida campanha publicitária sobre o programa Farmácia Popular, isso não traz resultados consideráveis na redução do clima de histeria predominante no Brasil.

Ao mesmo tempo, como ocorre em toda histeria, que tem suas raízes fincadas nos traumas infantis, a infância foi a primeira idade a ser abandonada pelos histéricos, defensores da polarização.

Enquanto se degladiavam chamando uns aos outros por "comunista" e "fascista", deixaram a ver navios as crianças e jovens, que foram, infelizmente, cooptados e capturados por propagandas de baixa qualidade, viciados e desvirtuados por não terem tido adultos em casa e na sociedade que olhasse para eles com o rigor e determinação de formar ótimos cidadãos, como ocorreu conosco, nascidos nos anos 1970 e 1980.

Assim, "sem freio", os jovens têm consumido todo tipo de porcaria que atrapalha o seu desenvolvimento, contribuindo para o caos foramdo a partir do óbvio descontrole de pessoas em histeria generalizada.

E eis que vejo esse video acima no Twitter/X.

Um dos ícones da juventude, famoso por posicionamentos reacionários e polêmicos chamado Monark conversando sobre terraplanismo e afins com o ator Sandro Rocha, famoso pelo filme "Tropa de Elite".

Isso me fez sentir aliviado.

Mostra que o pensamento coletivo está rechaçando a histeria dos últimos anos, relegando o conspiracionismo ao seu lugar originário, ainda que tenha abarcado mais seguidores do que antes.

Que excelente notícia saber que provavelmente a histeria está passando e daqui a pouco as pessoas darão menor importância aos erros eleitorais dos outros.

Como possível resultado já vinhamos observando o apogeu e rápido declínio do conservadorismo, em que pessoas idiotas faziam oração a pneus, acampavam em frente ao STF e batalhões do exército clamando "patriotismo". 

Do outro lado, estamos vendo o triste e breve apogeu do identitarismo. Afinal, "caixa preta" não é discriminatório à população negra. Em breve decairá completamente, legando alguns doentes incuráveis e outros eventuais.

A que estamos, então, nos dirigindo?

Provavelmente a um retorno do pensamento coletivo, que é elástico como um pedaço de borracha, ao estado anterior a tais perturbações. Algo como ocorria nos idos de 2008, 2009, algo assim.

Quem sabe observemos o renascimento de músicas mais otimistas e de letra mais otimista, ainda que por vezes rude ou grosseira. Programas e filmes com finais felizes. Aumento da procura e produção de programas e conteúdos mais alegres, alimentação saudável.

Maior alcance e absorção de técnicas e modos de criação de crianças e jovens de forma responsável, carinhosa e visando a formação de cidadãos maravilhosos.

Esforços cada vez maiores a favor de um mundo multipolar, multiético e multi linguístico.

Adesão cada vez maior ao multiculturalismo e sincretismo cultural entre os povos.

O Brasil será o grande destaque. Anotem.

No Brasil todo mundo vira brasileiro e nem precisa saber falar português. É um país e tanto.

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