Nunca me convidam para fazer coisa alguma.
Duas semanas atrás fui convidado para dois velórios diferentes, de dois pais, um deles meu tio.
Eu falo muito sobre a morte, não é mesmo?
Sobretudo da minha própria morte.
Por muitos anos não entendi essa fixação na morte, em especial na minha, mas agora cho que consigo entender melhor.
Eu não tenho medo de nada, nem mesmo de morrer, mas gostaria de continuar vivo ao menos até os meus filhos se tornarem plenamente adultos. Até o ponto em que não precisem mais de mim ou eu não venha a fazer diferença em suas vidas.
Mas o que acontece depois que morremos?
Existe uma separação de consciências em virtude do falecimento do corpo. Os sentimentos, ideias, lembranças que estavam associadas ao cérebro que morreu deixam de existir imediatamente; as que eram persistentes, como traços de personalidade ou formas de reagir ao ambiente levam mais tempo para se dissiparem e inevitavelmente transformarem em tendências.
Uma alma que separou do corpo há muito tempo não mais trará lembranças da vida anterior - nomes, endereços, situações... mas ainda reagirá exatamente como quando estava em vida.
E a chamada consciência superior, que é algo como o sol para a alma e o corpo... se afasta indo iluminar outro corpo que possua uma alma encarnada; a não ser que a alma (ou seja, o conjunto de tendências persistentes) tenha se desenvolvido de modo a não ser separado da consciência superior, ou espírito.
São bem raros casos de pessoas "eucarísticas", ou seja, cujas almas estão de certo modo vinculadas à centelha espiritual. Tais gentes, com frequência são chamados por "Adeptos da Boa Lei", ou simplesmente "Adeptos".
Costumam ser muito úteis, ajudam a todos, por vezes até se sacrificam em prol do progresso do gênero humano, mas normalmente preferem ajudar sem precisarem se sacrificar no processo.
Quem, de fato, reencarna, é a centelha espiritual, ou Mônada, para utilizar um termo pitagórico). É ela que se mantém intacta entre as diferentes encarnações, se comparada ao corpo que se desfaz e à alma que se desagrega, inevitavelmente.
Quanto mais tempo uma alma demorar para reencarnar, maior a chance de sua degradação se tornar irreversível e ela ser perdida. Mas ao reencarnar, a alma não trará todas as lembranças e aprendizados de sua vida anterior; mas em linhas gerais, a forma de reagir ao mundo, a inteligência, curiosidade e sobretudo, caráter.
Caráter é um sinônimo de alma e é, também, a característica mais durável deste ente espiritual. Por isso que as doenças de caráter são, a bem dizer, incuráveis.
Quando alguma pessoa de grande valor morre, sua alma pode ser recolhida para regiões astrais que irão reduzir ou impedir que a degradação das memórias e aprendizados ocorra rápido demais. Esse valor não é determinado pelo quanto tal pessoa ajudou ou fez pelas outras; mas pela firmeza de caráter ao longo da vida e pelo grau de sofisticação que exibiu, isto é, o grau de aproximação desta alma à centelha divina (Mônada).
Quanto mais próxima da eucaristia for uma alma, mais valiosa será e mais seres se importarão em guardá-la bem.
Logo, uma pessoa pode viver em completo isolamento e ainda assim ser, à luz da evolução, muito mais importante do que alguém famoso, que exercia filantropia, descobriu coisas importantes etc.
Fica para uma próxima conversa o quanto o mundo nos convida, cada vez mais, a abdicarmos da busca pela perfeição de caráter e eucaristia a favor de "prêmios" (como likes, inscritos, clientes etc) que fazem sentido na sociedade atual, mas não representam grande coisa à luz da espiritualidade. E o quanto pessoas até bem intencionadas têm perdido encarnações ao se dedicarem excessivamente a tais práticas em detrimento de outras mais espirituais, como o refinamento das atitudes, o predomínio da mente, bondade e intuição em contraposição aos indicadores linguísticos, idiomáticos, iconográficos e semânticos de sucesso cocnebidos à luz de "influeciadores digitais" e grandes corporações. Coisas aí para pensar.
Simbolicamente, a eucaristia tem sido representada pelas princesas dos contos de fadas, que ficam encasteladas, submetidas a torturas, dragões, bruxas malvadas sendo salvas por príncipes encantados em seus cavalos brancos.
A princesa é uma figuração da própria Mônada, ou razão-de-ser das coisas vivas; aquilo que coloca a matéria em movimento e sem a qual há a morte, em todos os sentidos. O castelo é o corpo causal, ou invólucro energético que funciona como interface entre o plano espiritual e o intermediário, ou astral.
Deveria existir um castelo para o príncipe, que representa a alma, com seus instintos domados e purificados (o cavalo branco), que enfrenta o mundo material (os desafios, dragões, bruxas, florestas sombrias etc), até encontrar a princesa. Isto é, se fazer digno dela e com ela "viver felizes para sempre".
Ou seja, eucaristia.
Voltando ao dia em que irei morrer e a impossibilidade de adiantamento dele.
Evidentemente eu serei vítima de alguma coisa idiota. Tipo um alimento estragado, algo bobo, imprevisível e inevitável assim.
Já morri e revivi em vida muitas vezes, mas fisicamente ainda sou o mesmo.
Assim que o cérebro deixa de funcionar, é como um grande reinício de tudo, caso ele seja religado.
A tecnologia médica atual não é capaz de fazê-lo, mas pode ser que daqui a muito tempo isso seja viável. Mas curiosamente, o mundo evoluirá tanto até lá que será mais fácil viver 200 ou 300 anos semprecisar ser revivido; e depois ter nova encarnação do que morrer e ser revivido.
Ao se desligar o cérebro, os condicionamentos e memórias procedurais que foram implantadas durante a infância serão apagadas. É uma espécie de "reset".
Em nosso tempo, dada a impossibilidade de reviver o cérebro, aquele que morre perderá tudo. Mas falando teoricamente...
Seria, talvez, a única forma de reiniciar os processos emocionais, traumas e impecilhos que nos impedem de vivermos plenamente. Repito - atualmente não há retorno para a morte cerebral e aqueles que o fizerem perderão tudo. Mas, falando teoricamente...
Talvez por estar em constante busca por me tornar alguém mais organizado emocionalmente, sempre bata nesse ponto - de condicionamentos e respostas emocionais que eu não consigo mudar, justamente porque foram implantadas quando eu era um bebê e não há mais como acessá-las para mudança.
Existe, claro, como conviver com elas e agir de uma forma um tanto artificial, como alguem que recusa um copo de bebida por ter noção do seu alcoolismo e das consequências de beber um copo de bebida; e não como alguém que recusa o copo por não ter vontade de beber - o que é bem diferente.
Olhando na perspectiva do sujeito, o que poderia acontecer comigo se eu morresse?
Talvez eu ganhasse uma nova encarnação, num lugar diferente, cercado por pessoas diferentes das que conheci. Seria uma pessoa totalmente diferente pela ausência dos condicionamentos primários da vida atual e sob influência daqueles da nova vida.
Talvez meus pais seriam pessoas que eu nunca vi nessa encarnação, mas que provavelmente conviveram bastante comigo e entre nós dessa forma, em encarnações anteriores.
Isso porque assumir nova encarnação para ajudar a família a evoluir, mesmo se oferecendo em sacrifício (o que não significa morrer, pois uma vida difícil acaba sendo, também, um tipo de sacrifício) não é mais possível após o despertar do Mestre Maytréia em 2004. Logo, eu não poderia ser filho de um amigo querido numa nova encarnação para que, sendo obrigado a cuidar de mim, evolua.
Dado o tipo de separação que é observada entre mim e o entorno ao meu redor, é de se imaginar que uma outra encarnação ocorreria distante daqui; no espaço e no tempo. Mas algumas pessoas muito próximas, como a minha esposa e os filhos talvez se manifestassem, também, por lá.
Isso é ser otimista.
Pode ser que a minha evolução espiritual seja insuficiente e após a minha morte eu fique vagando de um lado para o outro; ora interagindo com a realidade atrasvés do plano astral, do umbral ou qualquer coisa assim; seja enfurnado dentro dos meus pensamentos e desejos não realizados.
Como se todo dia fosse o mesmo dia - e um dia ruim, no caso.
Pode ser (duvido) que eu seja revivido em algum lugar que domine a tecnologia necessária para tal e ao despertar por lá, teria me esquecido de muitas coisas, le livrado dos condicionamentos que não consigo mudar hoje em dia, mas pouco saberia dizer sobre os desdobramentos disso. Isso porque nem só a superfície da Terra, à luz de três dimensões corresponde a realidade. Talvez eu seja útil para alguém importante ou para a condução de algum processo espiritual relevante que necessite do meu corpo (cérebro), além da alma. Não sei dizer.
E nunca sabemos, de fato, com quem estamos lidando, isso valendo em primeiro lugar para nós mesmos. Eu mesmo não sei dizer quem sou. Sou Ariomester, pode chamar Ari, mas isso soa falso. É como se existisse mais coisa mas eu fosse incapaz de decodificar a mensagem. Um dia conseguirei, tenho certeza.
Poderia acontecer (provável) que eu seja incorpoado a uma criatura muito mais evoluída que eu, meio que despertando dentro de seu corpo que atualmente está dormindo num lugar muito longe daqui. Para os que ficam, eu desapareceria para sempre - nunca mais teriam vestígio da minha existência. Para a criatura descrita, seria como acordar de um sonho - no sonho ele era um músico fracassado que escrevia coisas absurdas num blog muito estranho enquanto ouvia Banda Calypso.
Isso somente saberemos daqui a muito tempo (assim espero).
Curiosamente, certo tempo atrás eu passei por uma situação em que me vi dentro de tal criatura. Foi interesante - a minha existência era somente um sonho de tal criatura e de certo modo eu era ela e ela era eu - um tipo de pessoa bem grande num lugar muito, muito longe daqui, com construções em pedra, imensos descampados, vales, algo parecido com a Agartha dos orientais... muito curioso.
Curiosamente (parte 2), 5 anos após isso eu tive novo sonho, num dia em que estava passando muito mal e senti que iria morrer (mas como vocês podem ver, eu não morri). Neste sonho eu retrocedia até a infância mais bonita, quando eu tinha 4-5 anos de idade. Era como estar de volta à época, com os sentimentos da época.
Uma menina muito bonita mais ou menos da minha idade, bastante reluzente, como se emanasse luz, algo como uma princesa veio, sentou ao meu lado e me abraçou. Quando isso aconteceu, o mundo inteiro virou luz e eu acordei. Seria algum tipo de eucaristia? Não sei dizer.
Mas desde então é como se eu estivesse sempre acompanhado, ou ligado a algo ou alguém - a menina do sonho. E isso faz com que eu sinta o calor e a luz do sol o tempo todo, mesmo se for de noite, mesmo se estiver frio. Mesmo se eu estiver vivo - é como se estivesse tudo certo, mesmo eu achando que está errado.
É uma sensação muito interessante.
PS - falei muito sobre mim e a minha morte. E a morte de outra pessoa, que não seja eu, Ariomester?
Bom, as regras se aplicam a todos. O que descrevi para mim também pode ser o caso de outras pessoas, ainda que nem todas tenham tantas perspectivas post-mortem como eu acredito ter. Pode ser que algumas sejam revividas por serem úteis em seu corpo atual em outro lugar (ou não).
Pode ser que sejam assimiladas, ou desapareçam assimiladas por consciências maiores que a sua própria, como se fossem sonhos, pesadelos ou devaneios de tais seres em sues Tronos.
Pode ser que não encarnem mais e acabem por ser dissolvidas por inatividade astral e afastamento da Mônada (acredito que seja o caso de até 97% da população atualmente, mas é uma suposição, posso estar errado em relação ao percentual).
Pode ser que reencarnem, levando para a nova vida apenas as tendências, afetos e desafetos da vida anterior. Se viveram intensamente, a intensidade norteará suas vidas. Se odiaram intensamente, nascerão num lugar repleto de ódio; se amaram intensamente, reencarnarão em famílias ou situações amorosas; se buscaram e desenvolveram sua inteligência, terão imensa facilidade de estudar e desenvolvê-la ainda mais; se agiram sem pensar, de forma egoísta ou negligenciando a inteligência (priorizando prazeres e instintos), terão imensa dificuldade em aprender e agir racionalmente.
Se uma pessoa mata outra, é criado um vínculo tão forte quanto o nascimento. Talvez uma se torne filha da outra na próxima encarnação e briguem indefinidamente. Talvez o ódio e as agressões aproximem mais que afastem as pessoas, sendo o oposto do amor não o ódio, que é coisa bem distinta de amar, mas o descaso.
Coisas para pensar.
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