Esses dias viajamos e na volta paramos no Restaurante Cupim (Posto Cupim), famosa parada na BR-040.
Ao menos para quem viajava de ônibus por lá nos anos 1980 e 90.
Uma das coisas mais curiosas de ser pai é o quanto memórias antigas voltam à tona. Eu fico extremamente triste quando eu sou indelicado com os meus meninos. Fico muito chateado, desapontado, sentindo péssimo por gritar, ameaçar, humilhar uma pobre criança.
Me faz lembrar quem eu era.
O quanto de coisas erradas eu fiz na vida. Foram muitas.
Como a vez em que um "playboy" do bairro morreu num acidente de carro idiota (foi comprar pão para a mãe, resolveu acelerar o carro, passou no quebra mola, o carro bateu na árvore, morreu na hora). Lembro que na época eu ria disso, fazia graça, zombava, fiz até música para zoar.
É, eu sou esse tipo de pessoa.
Hoje em dia eu vejo as coisas de uma forma bem diferente.
Me pego pensando sobre o quanto aquela família deve chorar, até hoje, por conta disso. O quanto a mãe deve ter falado "Deus, por que não eu no lugar dele?". Não é alegre.
Meu histórico de idiotices e malfeitos é extenso, mas nada que envolva os outros. A não ser uma época que eu era muito apaixonado por uma menina que não queria saber de mim e todos riam... sempre riam, riem até hoje, por outros motivos.
Lembro que quando pequeno, toda noite minha mãe me contava a história do patinho feio e dizia "você é o patinho feio". Lembro disso claramente e eu ficava feliz por ela conversar comigo. Cresci vendo o mundo assim, pelas beiradas, pedindo licença, ouvindo comentários ruins, jocosos, maldosos, sozinho. Muito sozinho.
Eu sou uma pessoa muito envergonhada. Tenho muita vergonha de mim e das minhas coisas.
De vez em quando eu acho graça, quando alguém vê algum valor em mim. Meu instinto é reagir dizendo que está me confundindo com outra pessoa. Não é possível alguém gostar de algo como eu.
Não que eu seja inútil. Eu costumo ser muito útil e fico feliz em ajudar. Mas honestamente, não encontrei, até hoje, um motivo sequer para acreditar que eu não esteja entre as piores pessoas do mundo.
Mas não quer dizer que eu seja ruim que vá fazer coisas maldosas. Pelo contrário, eu quero terminar a vida com um saldo de boas ações, simplesmente porque eu gosto de ajudar. Eu sou rebelde e não é porque sou um dos piores seres humanos que preciso me comportar como tal. Quem manda em mim sou eu.
Depois estudar e refletir muito sobre o tema, fica claro para mim que o sintoma de achar graça de um "playboy" morto aos 15 anos de idade não era pela pessoa (que só conheci por nome). Diz de dores fortes, de programação psicológica malfeita.
Até porque crianças não sabem se criar sozinhas e a sensação que eu tenho é que cresci sozinho. Tinha quem me alimentasse, pagasse minha roupa, minha mensalidade na escola, mas parava por aí. Eu, sinceramente, trocaria todo esse "conforto" por uma mãe carinhosa e um pai atencioso. Por duas pessoas que vissem graça em mim, o que não foi o que aconteceu.
Lembro, ainda bebê ou muito novo, de ouvir meus pais comentarem entre si, referindo-se a mim "ele é estranho", "isso não é normal", "deve ser autismo". Isso lá pros idos de 1982, 83...
E quando meu filhinho lindo faz algo que me desagrada, sem me dar conta, não sou mais eu: é o meu pai falando comigo; minha mãe me virando as costas; meu irmão com vergonha de mim. Tudo isso se reune e eu grito e falo o que não precisava ser dito porque nada tinha a ver com o que o filhinho fez.
Só quem passa por essa experiência sabe bem como é...
Lembro claramente dessa música; eu era criança, fomos (eu e meu irmão) com a minha mãe até a UFMG, onde meu pai era pesquisador e professor. PEgamos o SC05, era um ônibus Mercedes carroceria amarela Caio Amélia II, era tipo 7h da noite. No rádio, o motorista ouvia essa música do link acima. Quer ouvir? Lembro que ficava correndo na frente dela, ela gritando "ariomester, volta aqui, anda do meu lado"; o elevador do ICB quase fechou minha perna de tão estabanado que eu era. Cheguei fazendo festa no laboratório e fui mais ou menos repreendido. Daquele jeito "não se comporte como um idiota" (adaptado). Ok...
Esses dias viajamos e na volta paramos no Posto Cupim, famosa parada na BR-040.
Ao menos para quem viajava de ônibus por lá nos anos 1980 e 90.
Era uma parada obrigatória para os ônibus da Cometa que saiam ou chegavam em Belo Horizonte através da BR-040. Era o veículo que nos levava de férias para a praia, para a casa de parentes, enfim... era a concretização do nosso desejo de viajar, passear, visitar pessoas queridas.
E no meio do caminho havia um Cupim. E havia um cupim no meio do caminho.
Lá era feito um pão de batata recheado com queijo maravilhoso. Na época era difícil achar esse pão nas padarias e o deles era realmente diferenciado. A parada vivia lotada, lembro claramente de acordar no meio da madrugada, ou pedir "pelo amor de Deus" para minha avó me acordar quando chegasse no Cupim.
Engraçado... eu observo muito os meus filhos e eles não precisam implorar por nada comigo. Será que eu implorava (me humilhava muito)? Acho que sim.
As memórias ficam muito difusas e meio que do nada eu vou lembrando de um monte de coisas, algumas com muitos detalhes (como o SC05) e outras menos detalhadamente.
Quando a minha mãe morreu, o mundo meio que apagou para mim.
Em vida ela sempre parecia distante. E ainda assim era a minha unica amiga, a única pessoa que vinha conversr comigo porque as demais ou riam ou me excluíam, ignoravam, rechaçavam... e eu ficava pelos cantos, pelas beiradas...
"Se não vai por bem, vai por mal"; "se você não concordar comigo eu vou te matricular no Orôncio (uma escola estadual péssima aqui perto de casa)"; "então fica sozinho aí no seu canto"; "ninguém quer saber disso que você gosta"... são coisasa que eu esqueci, por longas décadas nunca achei sequer que as tivesse ouvido, mas agora eu percebo muito bem que era assim que me tratavam.
Mamãe morreu em abril e em junho fomos até o litoral do RJ, casa de praia do tio Arydel. Não era mais a mesma coisa sem ela. Ainda apesar de tudo, sentia muito a sua falta. Lembro de voltar de lá num ônibus da Útil, viagem diurna. Eu ficava vendo a estrada da janela e sempre triste, sem energia, com uma forte sensação de fracasso, de "fim da linha".
Mais que perder uma amiga, perdi a chance de quem sabe deixá-la orgulhosa ou feliz por mim. É, dessa vez eu perdi. Sua partida selava o meu destino, sem chance de revisão da minha história. Era aguentar firme e assim tem sido até hoje.
Com o tempo, as memórias são esquecidas e nem nos damos mais conta delas, porque machucam.
Em psicanálise isso se chama "recalque".
Mas nós não nos livramos delas: as transformamos em comportamentos e outras coisas presentes no nosso jeito de ser. Cristalizamos ideias, crenças, idealizamos coisas absurdas, perdemos tempo correndo atrás de quem obviamente não nos quer por perto.
Zombamos da morte porque não morremos, mas em algum momento a corda aperta e não tem como evitar. Como a BR 040, sinônimo de alegria infinita na casa de praia; dos passeios ao por do sol com a mamãe, indo e vindo na beira da água do mar... que virou uma estrada triste.
E tinha um Cupim no caminho. E no caminho tinha um Cupim.
Esses dias viajamos e na volta paramos no Posto Cupim, famosa parada na BR-040.
Ao menos para quem viajava de ônibus por lá nos anos 1980 e 90.
E para minha surpresa, o local está praticamente abandonado. Vou deixar as fotos falarem por mim.
Há um cheiro forte de poeira no ar, cheiro de mofo, é muito escuro, as coisas não funcionam, tudo enferrujado, quebrado, empoeirado, meio que deixado pra trás. Não gostei.
Mas antes, para fechar, uma reflexão sobre o quanto nossas memórias são importantes e lindas. Na minha cabeça, ainda consigo ver o Cupim de madrugada, todo iluminado, o motorista da Cometa dizendo "parada, 20 minutos"... o pão de batata caro(que vovó só comprava um para cada um)...
Esse belo prelúdio de dias felizes na casa de praia, comendo bobó de camarão... chorando no ônibus da EVAL ao ter que voltar para a rodiviária do RJ e de lá para BH, significando que o passeio na praia tinha acabado... da BR 040 triste numa segunda feira qualquer, de tarde, vista de um ônibus da Útil, que não parava no Cupim....
Eu tenho todas as lindas memórias e fico pensando em o quanto devemos nos importar com as memórias.
Eu lembro desse ano (2003). Eu comecei o ano muito apaixonado por uma menina chamada Karina (Meneghini) que não queria nada comigo, mas não deixava isso claro. Na verdade, eu que não queria ver o óbvio e seguia sonhando e incomodando a moça. Isso contraria minha regra geral, mas digamos que um belo dia, numa meditação profunda que fiz, um Mestre Iluminado como o V Senhor me disse que era "urgente e imperativo" estar perto dela, a qualquer custo (que não ferisse seu livre arbítrio). Foi um ano em que eu bebi muito, passei o ano alcoolizado, sem nem ter ressaca, pois bebia todos os dias, acordava e dormia cheirando a bebida. Pra todo lugar que eu ia ficava olhando se ali estava a Karina, evidentemente ela não estava. Num desses dias fui a um show do Charlie Brown Jr., banda que gosto muito e sempre fui aos shoews em BH. Foi um show no Ginástico da turnê do vídeo acima, provavelmente o mesmo repertório. Pela manhã eu bebi no DCE da PUC onde eu era aluno (de engenharia mecatrônica), de tarde fiz um show de pop rock com uma banda que eu tocava, vim em casa e fui para o show no Ginástico. Lembro que uma música acabou por chamar muito a minha atenção ("Luigar ao Sol"). Eu sou um pouco inerte a letras, não as entendo bem e não sinto falta delas, mas presto muita atenção e acho mais fácil de entender as melodias, arranjos, etc. Sem entender acabou sendo um tipo de divisor de águas. Ficou para trás um Ariomester bobinho e vim eu do outro lado. Mas na época, foi só um show ótimo que um menino bobo e idiota foi assistir. Link para a música (Lugar ao Sol) https://www.youtube.com/watch?v=2QJXc-qRA3s&list=RD2QJXc-qRA3s&index=1&t=3233s
Meu pai morreu sabendo falar apenas o meu nome. Minha avó também. Foram eles que meio que me criaram depois que mamãe morreu e curiosamente, com demência profunda esqueceram o próprio nome, e tudo mais que se possa imaginar, exceto a palavra "Ariomester"... nisso que deu ficar gritando tanto comigo dizendo que ou eu ficava perto deles, ou iriam embora e me deixar pra trás para ser sequestrado e morto.
E quem nunca, de uma forma ou de outra, não me disse "Ariomester, vá embora, aqui não é o seu lugar, você não é bem vindo aqui". Muito suspeito é quando isso não acontece.
Para ver memórias boas, precisamos lidar com as ruins, também.
Fica aí uma bonita reflexão.
Achamos muito estranho... o lugar parecia abandonado, entrei por pura teimosia.
É, ainda funciona.. até certo ponto.
Esse balcão redondo, com aquelas fotos iluminadas dos lanches deve ser original dos anos 80/90
É meio caro (R$12/pão de batata com queijo assado no local)
Essa foto foi feita às 16h. Estava super escuro lá dentro, não tem mais iluminação a não ser no caixa e no forno do balcão central
Não dá para sentar nas mesas por causa da poeira e porque a maioria delas está quebrada/enferrujada
Banheiro em condições lastimáveis
Banheiro em condições lamentáveis, cheio de remendo, cheira muito mal, muito sujo
Muitas teias de aranha grande por lá
Os meninos resolveram entrar nesse brinquedo e ficaram tossindo por causa da poeira
Isso deve ser da época 80/90 - um tipo de aquário em forma de barco
Tem uma infinidade de coisas, mas não tem mesa para sentar e nem um serviço decente. E tudo é caro.
Espaço kids.
Muita coisa enferrujada (inclusive portas e janelas)
Espaço kids fechado porque o brinquedo está em péssimas conmdições. Não há indicação de risco ou impedimento - qualquer hora uma criança sobre ali, o brinquedo despenca e machuca.